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terça-feira, 27 de julho de 2010

Essa é porreta!!!

Houve um tempo no Brasil em que tínhamos um presidente chique, poliglota, bem postado, bem falante e charmoso, que a todos convencia com a sua fala mansa. Na época, cansado do "bom mocismo" e da ineficiente politicagem tucana, escrevi esse texto que agora posto em forma de cordel. Uma delícia para escrever e, espero, para ler.






O DIA EM QUE PADIM CIÇO DESCEU DO CÉU E CONVERSOU COM FERNANDO HENRIQUE, NA ÉPOCA EM QUE ESSE ÚLTIMO ERA PRESIDENTE DO BRASIL.


Certo dia o Padim Ciço,
Já cansado dos altares,
Das alturas lá do céu
E da santice dos seus pares,
Resolveu descer à terra,
Disposto a fazer guerra.

E guerra iria promover,
Empunhando o seu cajado,
A tudo o que conseguisse ver,
Entre seu povo calejado,
Que estivesse por fazer
Ou que estivessem fazendo errado.

Era tanta coisa errada
Que o Santinho aqui foi vendo
E quanto mais perambulava
Mais desgraça acontecendo
Que o santo cabelo arrepiava
E a batina ia encolhendo.

Mas o Padim não se entrega
Apesar de tanto desgosto,
É que nesse Brasil a regra
Está estampada no rosto:
Enquanto o patrão sonega
Quem peleja paga imposto.


E o Santinho quase mudo,
Foi ficando furibundo.
Paga-se imposto prá tudo,
Um dos mais caros do mundo,
Isso é um grande absurdo
Prá sustentar vagabundo.

E o pior da situação
É que quem paga, afinal,
Não tem direito à educação.
Sabe escrever malemal.
E tá lascado o cristão
Que precisar de hospital.

Padim Ciço, assustado,
Concluiu com muita dor
Que o povo tá abandonado
Num país de aproveitador
Onde ladrão é deputado
E traficante é senador.

Como pode em terra tão boa
Ter tanta sujeira e trambique?
Pouca gente ganhando à toa
E tanto pobre indo a pique?
Só mesmo puxando a orelha
Desse tal Fernando Henrique.

E dito isso assim foi feito
Porque o padre, quando vivente,
Foi cabra macho e tinha peito
Prá enfrentar a toda gente.
Não tinha medo de nada,
Ia ter de presidente?!

E foi pegando a sua trilha
Partindo sem muita demora.
Foi-se embora prá Brasília
Pensando: “É agora !
Falo com o rei da quadrilha
Sem precisar marcar hora”.

“Aquele fio dum chifrudo
Que só do bem-bom desfruta,
Que tem desculpa prá tudo
E despreza aquele que luta,
Na verdade é um topetudo,
Um grande filho da ............”

Minha gente cuidado,
Não façamos confusão.
O último verso riscado
Foi prá testar a atenção.
Não vamos cometer pecado,
Santo não diz palavrão.

Ai que essa história se entorta!
Vamos voltar ao assunto.
O Padim chutando porta,
Quase fez um defunto.
A segurança quase que é morta
Quando o Santo chegou junto.

Foi direto ao Planalto,
Entrou sem deixar nome.
Esqueceu o salto alto,
Foi direto à sala do hôme,
E falou num sobressalto
Defendendo o povo com fome:

“Fernando Henrique meu filho”,
Disse o padre irritadiço,
“Gente não vive de brisa,
A situação tá difícil.
Arregaça a manga da camisa,
Vê se resolve isso!”

“Brasileiro virou mendigo
E os políticos da nação
Não sofrem nenhum castigo,
Isso é que é esculhambação.
Vou levar todos comigo
E entregar nas mãos do cão”.

O presidente assustado
Quase caiu fulminado
Tamanha a petulância
Daquela figura de plasma:
“Onde estava a segurança
Que não brecou o fantasma?”

“Fantasma é sua progenitora”
Disse o Santo bufando,
“Sou Cícero Romão Batista
E meu povo estou representando.
Tu está na minha lista,
Ouviu bem Sr. Fernando?”

“Nunca vi em minha terra
Tanta injustiça e desmando
O governo sela e ferra
O povo que o está sustentando.
Assim o cabrito berra,
Ouviu bem Sr. Fernando?”

E o presidente acuado
Resolveu entrar na dança.
Respondeu bem pausado
Coçando de leve a pança:
“Isso tudo é resultado
Da política de aliança”.

“Eu baixei a inflação
Quando criei o real
E tive que aumentar impostos
Prá garantir o capital,
Meu Padim tão querido,
Não me leve assim tão a mal”.

“Eu até estive pensando”,
Continuou o presidente,
“Em criar mais um imposto
Para aquele que é descrente.
Assim sendo a santaiada
Vai ficar tudo contente”.

“Já marquei para amanhã
Uma reunião com o mausoléu.
Já até conversei com o Malan.
O imposto do incréu
Vai ser todinho depositado
Lá na conta do céu”.

“Mas rapaz presidente”
Disse o Padim já sorrindo.
“Sendo assim é diferente,
Vê-se logo que gesto tão lindo
Só podia ter vindo de gente inteligente,
E eu aqui lhe afligindo”.

“Estou até envergonhado
De entrar aqui como um ciclone.
Fui tão afobado
Botei a boca no trombone
Com moço tão educado
Que até deu aula na Sorbonne”.

“Meu querido presidente,
Eu lhe faço uma proposta
Prá me desculpar da cagada.
Dispense logo os guarda-costas,
Embora comer uma buchada
Que eu sei que você gosta”.

E assim de forma diferente
Chega ao fim essa ode.
O povo continua descontente.
A esse, ninguém acode.
E o Padim Ciço e o presidente
Se refestelando no bode.

Pode ?!

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Neste glorioso dia...

amarelamente ensolarado, fiquei rôxo de vontade de falar das cores.





CORES


A vida era bela.
Verdeazul, rosamarela.
Bordeaux-sangue venoso.
Azul escancaradamente claro, gazozo.
Rôxo-hematoma.
Rôxo-coma.
Rôxo de gozo.

A vida era serena.
Grená-gangrena.
Azul-marinho fosco.
Branco-Jesus-está-convosco.
Amarelo-carinho.
Amarelo-canarinho.
Amarelo-predisposto.

A vida era feliz.
Lilás-flôr-de-lis.
Laranja-tangerina.
Rosa-de-infantil-aspirina.
Vermelho-carmim.
Vermelho-clarin.
Vermelho-estricnina.

A vida era suportável.
Verde-água-não-potável.
Marrom-chocolate.
Azul-cádmio-cheque-mate.
Prêto-jaboticaba.
Magenta-o-Brasil-acaba.
Escarlate-apertão-de-alicate.

Hoje a vida é cinza.
Berrantemente cinza.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Já que...

A minha dentista gostou tanto do poema postado anteriormente e, falando de cátedra, já que tive tantos problemas dentários e passei madrugadas e madrugadas batendo a cabeça nas quinas das paredes na tentativa de aliviar a dor, posto hoje esse sonetinho escrito num momento de absoluto desespero dolorido/poético:




A CÁRIE

O açúcar avisa. Primeiro sinal.
Logo após a água fria. Segundo indício.
Então, sem tratado de armistício,
A cárie vence o fio dental.
Suplício mudo na madrugada,
Analgésicos nem arranham o mal.
Há que enfrentar, é fatal
O si-bemol da broca afinada
Que, afiada, esgarça o esmalte cinzento
Lançando ao céu da boca as sequelas,
Induzindo à eutanásia, em processo lento.
E quando as forças não são mais aquelas
Abdica-se da estética por um momento
E admira-se a impunidade dos banguelas.

sábado, 17 de julho de 2010

Há alguns anos...

elaborei esse auto-retrato que agora compartilho:




AUTO RETRATO

Às vezes sou erudito
Mas com o infinito circunscrito
Como o de um etíope míope.
Sou um Capitão Marvel com cara de bedel.
Um caranguejo com alma de badejo.
Nem Guilherme Tell nem Graham Bell.
Um heterossexual amoral que nunca frequentou bordel.
Outras vezes sou um pirralho grisalho.
Um espírito lírico com excesso de ácido úrico.
Dono de uma gastrite recorrente
E um discurso eloquente.
Corro dos falsos preços módicos
E das ameaças melódicas das moçoilas casadoiras.
Fujo dos chatos esféricos,
Dos chatos hiperbólicos
E dos ares cadavéricos
Dos frequentadores de bares seculares.
Cometo carradas de cagadas
Mas aprendo e permaneço benvindo.
Amo ver mulher sorrindo.
Acho lindo.
Brinco com crianças,
Sonho com quimeras
Começando pela beira das eiras sem elas.
Alimento-me da seiva de rosas amarelas
E choro pelos cantos pela perda dos encantos.
Assisto a vida do terraço
Mas sei fazer estardalhaço quando é preciso.
Sou liso.
Não encalacro, não enrosco.
Amo a vida mas tomo porrada dela.
No baço.
Saio no braço com ela.
Prossigo com dores no omoplata,
Mas com ares de diplomata.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Após um longo

e tenebroso inverno de Copa do Mundo, volto a postar hoje uma letra que virou música através do meu parceiro João Lúcio. É letra boa para quem conhece bem São Paulo!




CRUZAMENTOS


Todos os vidros estão fechados
Na Rebouças com Estados Unidos.
Todos os medos são divididos
Na Augusta com Caio Prado.
Todas as armas são de verdade
Na Pinheiros com Faria Lima.
Todos os versos ficam sem rima
Na Fagundes com Liberdade.
Todas as vidas viram entulho
Na Aurora com São João.
Todos os cegos estão sem cão
Na Lorena com Nove de Julho.
Todos os homens se chamam Zé
Na Angélica com Maceió.
As mulheres espanam o pó
Na Bartira com Sumaré.
Sempre faz frio mas nunca neva
Na Nebraska com Santo Amaro.
Qualquer descuido sai muito caro
Na Paulista com Itapeva.
Toda a fumaça emana dos carros
Na Vergueiro com Paraíso.
E os meninos perdem o juízo
Na Oratório com Paes de Barros.

E os meninos são mal-amados
E os meninos são mal-vestidos
E os meninos são inimigos.
E passam em passo apertado,
Lavando vidro,
Vendendo doce,
Provando o amargo,
Lavando a alma,
Vendendo o corpo,
Sorriso largo.

terça-feira, 6 de julho de 2010

HOJE NÃO É DOMINGO!

Mas bem que poderia ser.
Em homenagem a um domingo imaginário posto então um poeminha antigo sobre o que eu acho dele.



TARDES DE DOMINGO

Aborrecidas tardes de Domingo,
Entediantes horas de sossêgo,
De pensar na amada, de querer apêgo,
Resistindo à TV que sempre xingo.
Domingos longos, inteiros, perenes,
Tão distantes da próxima Sexta,
Da promessa de interminável festa,
Das mulheres, dos porres, das sirenes.
Balbucio de corações cansados,
Ressaca de sentimentos lindos,
Reflexão sobre os amores findos,
Sol estacionando sonolento,
Ar pesado, ausência de vento,
Aborrecidas tardes de Domingo.