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quinta-feira, 24 de junho de 2010

Coluna no Tulípio!

Mais um texto veiculado na minha coluna no site do Tulípio, cujo endereço está na minha penúltima postagem. Visitem!



VENDE-SE MEIO SAMBA.



Já ouvi o presente causo contado por Beth Carvalho e Carlinhos Vergueiro, em momentos distintos e com algumas diferençazinhas aqui e ali. Esta é uma versão intermediária, que pinça verdades nas duas anteriores para compor um honroso um a um.

Compor em parceria sempre foi uma história complicada. Pior do que casamento de marido beberrão com mulher dadeira. Pois em priscas eras a coisa era ainda pior. Época em que se vendia um samba para garantir o almoço do dia seguinte, época em que a legislação autoral ainda borrava as fraldas. Hoje engatinha. Pois é fato que naquele tempo a maneira de se compor em parceria era um pouco diferente. Não era comum um parceiro fazer a letra inteira e passar ao outro para musicá-la, ou vice-versa. A praxe era que um fizesse a primeira parte do samba, música e letra, e entregasse ao parceiro para que este fizesse sozinho a segunda parte, ou terceira. Foi nesses moldes que um dia os saudosos Cartola e Nélson Cavaquinho compuseram um samba que até hoje permanece inédito. Não porque não fosse bom, fato impossível a se considerar o calibre de ambos, mas porque foi motivo de clima ruim entre os dois.

Permanecendo inédito, como já se disse, o tempo passou e Cartola acabou esquecendo da existência do pobre samba. Até um determinado começo de noite em que, bebericando incógnito num canto qualquer, na época em que ainda era um mero pintor de paredes, ouviu um sujeito forte e bem vestido cantarolando “aquele” seu samba com o Nélson, inteirinho, palavra por palavra, numa mesa ao lado. Imediatamente foi até o grandalhão e perguntou de quem era a autoria, já prevendo o pior. O sujeito respondeu numa entonação de não permitir dúvida: “É MEU”!!!

Pêdavida, Cartola engoliu ar e foi ao encalço do parceiro. Assim que o encontrou já foi perguntando de longe: “Nélson, você por acaso vendeu aquele nosso samba, pôrra”?! Ao que Nélson, sem tirar os olhos do copo, respondeu com voz emborrachada: “Só a minha parte”!