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sábado, 25 de setembro de 2010

Mais um

dos meus intermináveis sonetos falando de amor!




COISA ENGRAÇADA



A solidão é uma coisa engraçada,
Quanto mais ela me invade o corpo
Mais a desejo num desejo torto
E mais a quero ter amenizada.
O amor é outra coisa complicada,
Quanto mais ele me inunda a vida
Mais me desespero na partida
E mais anseio ver a página virada.
Esse manto dissílabo e canalha
Quanto mais se encolhe ainda mais se espalha
Quando o mundo o estende sobre o vasto mundo.
E o peito, que antes era latifúndio,
Transforma o amor em algo nada amável
E a alma em charada indecifrável.

sábado, 18 de setembro de 2010

Aos dez anos de idade...

Fui à praia com a família e, numa tarde em que se prenunciava uma tempestade, minha mãe proibiu que eu saísse de casa. Minha querida avó, percebendo minha contrariedade, disse calmamente para eu esperar porque a chuva iria passar e eu poderia então ir à praia logo depois. Foi o que aconteceu. Nunca esqueci das palavras dela e da lição a qual, numa óbvia comparação, aplica-se a todas as dificuldades da vida. Aos vinte e poucos anos vivi uma cena de intensa chuva, mas agora na Rua Líbero Badaró, centro de São Paulo, onde eu trabalhava. Lembrei da lição de minha avó e o poema que segue surgiu naturalmente, inteiro em minha cabeça. Só tive o trabalho de colocá-lo no papel...



CANÇÃO DA CHUVA


Assim que a chuva passar
A vida vai continuar,
Do ponto onde parou,
Da maneira exata como, em suspense, aguardou,
O final da umidade,
O cessar do vento,
A vida da cidade.
E o cão sarnento aos saltos
Voltará a esbarrar nas pernas dos incautos.
E a mulher obesa sacudirá o guarda-chuva
Ao se levantar, com dificuldade, da mesa
E as pessoas vão, aos poucos, voltar a rua,
Para a calçada úmida, há pouco nua
E a vida vai continuar,
Como sempre continua.
E os vapores exalarão do asfalto
E o sol voltará a brilhar na careca do homem alto
E permanecerão temporariamente os respingos,
Mantendo os objetos brilhantes, lindos,
Como peculiares e solitárias testemunhas.
E um dia a chuva volta, como quem não quer nada,
Molhando tudo, essa mal educada.

domingo, 12 de setembro de 2010

Níver!!!

ANIVERSÁRIO



Envelheço hoje, na convenção do tempo.
Estalam as juntas, acomodam-se os ossos
E descubro que os vôos já não são nossos,
Recolho as sementes lançadas ao vento.
As germinadas, já não as noto.
Limito-me a imaginar o tamanho,
O peso, a robustez do caule castanho
Das eventuais árvores onde broto.
Mais concreto hoje do que mês passado,
Mais próximo da lâmina do adversário,
Ainda busco caminhos impensados.
Mais atento ao que me sussurra o calendário,
Encontro as sensações do inusitado,
Evitando contar o tempo ao contrário.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Nessa madrugada quente...

Me lembro do longínquo ano de 1994, quando estive na Cidade do México e visitei a casa azul no bairro Coyoacan, hoje Museu Frida Kahlo, onde a pintora nasceu, viveu e morreu. Me apaixonei instantaneamente pelo lugar e por aquela estranha e linda mulher, falecida 40 anos antes. Anos depois, li nos jornais o registro da existência de uma "seita religiosa" cultora do "kahloísmo", baseada na maneira de viver e ver o mundo de Frida. Na época, fascinado, escrevi o poema que segue:


FRIDA



Esta noite eu sonhei com Frida.
Eu sempre quis ser livre e selvagem,
Sempre desejei a roupagem de uma nova vida.
Eu sempre amei Frida, antes mesmo da viagem.
Sabe lá o que eu quisera.
Quisera ser Diego Rivera,
Beijá-la todo dia,
Viver com ela na casa azul,
Esconder-me em seu armário,
Ser um pincel em sua mão tardia,
Afagado como os cães
Que habitavam seu relicário.
Passear com ela de manhã
Pelas ruas verdes e tranquilas de Coyoacán.
Quisera seu coração livre e mexicano.
Quisera admirar, na primavera,
O inverno de suas sobrancelhas,
Ser o vento colorido que a levou.
Quisera ser Rivera
E amá-la muito mais do que ele a amou.