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terça-feira, 1 de junho de 2010

Arquitetura do ar

Poesia é o exercício de criar estruturas a partir do abstrato?
Isso já foi suficientemente pensado e debatido, entretanto...



ARQUITETURA DO AR

As idéias nadavam na carga da caneta,
Proveta provisória em ebulição.
Derramei-as no papel impenetrado e alvo,
Até então virgem.
Para angariar alguma poesia
Lancei mão de apetrechos.
Trechos de antigas cartas em aramaico,
Um arco voltaico que volta e meia encrencava,
Uma trava para travar não sei o que,
Um bilboquê sem bola na ponta,
Uma conta de um supermercado falido,
Um latido contido num pequeno vidro,
Uma sidra bebida até a metade,
Um frade para orar por causas fúteis,
Um chute de três dedos bem no ângulo,
Um losango amarelo sem bandeira,
Coisas assim, bastante úteis.
Passei a adorar o halo do sol
Como os antigos egípcios.
Lutei jiu-jitsu com as forças ocultas.
Levei multas de policiais virtuais.
Consultei os anais da enciclopédia do futebol.
Constitui um rol de objetos irreais.
Antes que o nada me escapasse por entre os dedos
E longos enredos me impedissem o navegar,
Antes de deixar retornar o medo,
Antes mesmo de aprender a nadar,
Resolvi reaprender a arquitetura do ar.