Total de visualizações de página

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Assim como uma mão

que não encontra um bolso para morar, a sensação de inadaptação é uma das mais incômodas. Esse sonetinho antigo fala justamente disso.


CACOETE

Um sopro cálido de fim de inverno,
Tão triste quanto vão e inusitado,
Mais quente que a ante-sala do inferno,
Mais vazio que a cidade num feriado.
Um vácuo gélido que me vem à mente
E vai descendo por caminhos estreitados,
Tomando tudo o que aparece pela frente
E ao coração de sonhos desviados.
Afundo naus apagando o farol,
Transporto mágoas sem pagar o frete,
Confundo o mundo desligando o sol.
No bolso não restou nenhum chiclete,
No cooler não restou nenhuma skol.
No rosto, só restou o cacoete.