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quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Óieuaquitraveiz!

Com mais um poeminha para petizes.


O PIRULITO, ESSE NOSSO AMIGO

O pirulito tem uma haste
E na ponta tem um doce.
É quase como uma bala,
Na verdade é como se fosse.
É uma bala redonda
De formato bem bonito
Mas que cansou de ser bala
E se apóia num palito.
O pirulito é muito bom,
Mas é um troço esquisito.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

A produção poética

é inconstante, mas não significa que tenha um fim. Daí esse poema novíssimo
em folha!


CERTEZAS

Certezas flácidas e temores concretos.
Eis a causa da desventura.
Por gostar de papos certos e de carne dura,
Nunca vivi amores abertos
E só amei estar amando.
Pulando etapas fui enganando
Construindo pistas de autorama
Na cama de quem me atura.
Ou então costurando amargura
Com a agulha fina do drama.
Entenda como quiser.
Só não entende quem não quer.
E desde sempre questionei o amor
Perguntei para a dor se ele existe
Ou se é só um chiste de escrevinhador,
De quem inventa a dor do amor
E se confrontado insiste.
Quase sempre invento o amor
Onde sei que ele não persiste.
E se ele me mata aos poucos
Saio atirando e permaneço incólume
Gritando que todos estão loucos.
Entenda como quiser.
Só não entende quem não quer.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Sim,

Aqui estou novamente para apresentar um novo soneto!


SIM

Eu digo muitos mais sins do que nãos.
A palavra sim diz logo a que veio.
É arma cortante que tenho nas mãos
Para assassinar a dúvida em seu seio.
Quando a pergunta vem sorrateira a bordo
Respondo um claro e inconfundível sim.
Não digo: “é, pode ser, concordo...”
Não existe meneio que perdure em mim.
E ainda que a questão insista, enfim
Surda por que quer e imune ao sim
Não existe mais nenhuma alternativa
A não ser manter a palavra viva
E numa brusca e última tentativa
Pronunciá-la novamente e fim.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Após breve ausencia...

hoje tem mais um inocente conto da nova safra!


AI MEU SÃO BENEDITO!

Ah, no começo era uma maravilha. Ela estava super apaixonada, eu também, chameguinho prá lá e pra cá, mil gentilezas, presentinho sem motivo, sexo oral de hora em hora, sabe como é né?! Se ficasse sempre assim...uma maravilha...mas sei lá, o tempo é cruel...vai mudando tudo...
De repente você conta uma história engraçada que aconteceu com algum amigo seu esperando uma reação e ela não ri. Pior, fica indignada com aquilo, xinga seu amigo, diz que não quer que ele venha em casa nunca mais...sei lá...uma violência, uma total falta de senso de humor, sabe?! Daí vai piorando, ela nem presta mais atenção no que você conta a ponto de você ir dizendo absurdos e ela nem tchum. Você diz que antes de sair do escritório comeu sua secretária e ela diz, sei, hâhã....Você diz que deu uma porrada na mãe dela e ela diz, ah é?!!! Vai ficando grave.
No começo até futebol elas assistem com você, depois é cada um na sua tv.
E a tal de TPM? E a tal de TPM???
Você dorme Chico Buarque e acorda Fernandinho Beira Mar, sabe como é?! No intervalo de uma única noite ela passa a te odiar e você nem sabe o porquê, nem ela sabe! Triste isso. Deveria ter lei contra!
No caso dela tinha umas esquisitices também, sei lá! Ela nunca foi católica, de ir em missa e ficar feliz com isso, pelo contrário, falava que era atéia, metia o pau no Papa, bebia todas, falava mais palavrão do que eu, mas tinha essa fixação nos santinhos. No criado mudo dela tinha uma turma de santinhos. São Benedito, São Jorge, Santo Antonio, uns sete ou oito, maior galera mesmo! E ela rezava baixinho para cada um em particular antes de dormir. Um ritual que levava uns 15 minutos. Eu tentava dormir mas os sussurros dela não deixavam. Inferno!
Mas o pior é quando a gente estava no meio da transa. Eu olhava pro criado mudo e aquela santaiada estava toda olhando pra mim! Eu tinha que parar e virar eles pra parede, ela reclamava e o clima sumia. A trepada parava no meio. Quando eu ignorava os olhares de reprovação dos santinhos e seguia em frente ela começava falando baixinho: “ai meu são benedito, ai meu são josé”...e quando ia gozar já estava gritando: “valha-me minha nossa senhora”....não dá né?! No começo eu até achei engraçado. Nunca tinha visto alguém trepar falando nome de santo. Pensei que fosse tara, sei lá, mas um dia parei e disse: “Minha filha, que história é essa de ficar chamando santo? O que a gente está fazendo não tem nada a ver com santidade”! Mas ela dizia que não controlava, que saía sem querer....
Então a gente foi parando de transar. Foi meio que automático, sem pensar. Aliás nem no assunto nós pensávamos mais. Conversar sobre então...fomos virando dois antúrios numa estranha simbiose assexuada, sei lá! Eu já estava ficando com a pele verde mesmo!
Foi por isso que eu saí de casa. Sei que ela está querendo me capar, me matar, mas não dava mais! Eu só saí com a roupa do corpo. Mas levar os santinhos dela embora eu sei que foi sacanagem! Fiz pra sacanear mesmo!!! Ela deve estar puta! Acho que vai entrar na Justiça. Foi o que me falaram! Hahaha...só se for pra pedir regulamentação de visitas dos santinhos!
Mas eu deixei o Santo Antonio lá com ela, que eu não sou besta! Aí quem sabe o santo ajuda, ela casa de novo e tira essas idéias de reatar da cabeça!

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Poema novo

na praça!


VIDA ZUNIDA.

A vida dormia do lado de fora,
sempre à espreita no sereno.
Às vezes tocava a campainha
e fugia em desabalada carreira.
Na rua me ultrapassava
e eu corria atrás dela
até finalmente alcançá-la.
A vida demonstrou ser afável
e cruel.
Ela é uma criança passando trote,
brincando no chão.
É um constrangedor trava-línguas.
É o sol entrando pela janela de manhã.
É um cume de montanha nevado
visto de muito longe.
É cheiro de mato úmido cortado
e também de óleo diesel queimado e banheiro público.
A vida é som de buzina e música boa.
É um sorriso escancarado.
E ela vinha através de suas mãos trêmulas
segurando as minhas
ou me trazendo uma xícara de café quente.
Também se abria nos relatos do dia,
cheios de aventuras e alegrias,
em seu olhar amoroso,
em seu abraço macio.
Um piscar de olhos e a vida se esvai.
Pois veio sorrateira
e foi levando tudo pelo caminho.
Menos as histórias.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Instigado e incentivado...

acabei voltando a cometer alguns sonetos. Este é da nova safra!



O BOM CLARINETISTA

Valho-me de gim para perfumar o futuro
Ouço canções para cimentar a amargura
Escrevo de primeira sem evitar rasura
Venço as guerrilhas diárias e perduro.
Se preciso exercito meu talento cênico
Distribuo sarcasmo sem ninguém em vista
Admiro aquele que é bom clarinetista
Pior sorver indiferença ao amargo arsênico.
De ambições tenho uma extensa lista
Bem mais longa que meu rol de bens
Na vida sou mero estudante bolsista.
Já perdi na história o imperdível trem.
Mas hoje parafraseio o velho fabulista
Sirvo-me de animais para instruir o homem.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Depois de uma breve pausa...

tem conto novo na praça!


O AUTO DO DESCRENTE

Era assim. Sem mais nem menos e sem aviso Padre Alcebíades aparecia na casa dos membros de seu razoável rebanho, geralmente perto da hora do jantar. E ficava até ser convidado a partilhar as tortas, as macarronadas e os frangos assados. Adorava comer e comia muito mais do que seu pequeno corpo necessitava.
Pedro Henrique, aos oito anos, preparava-se para a primeira comunhão em aulas de catecismo ministradas pelo Padre. Seus pais eram muito católicos, daqueles que nem passam perto de açougue em sexta-feira santa e Padre Alcebíades adorava os pratos gordurosos que Dona Eulália, mãe de Pedro, fazia. Talvez por isso o Padre aparecesse em sua casa pelo menos duas noites por semana. Devorava tudo em quantidades assombrosas e ainda fazia elogios aos pratos com o conhecimento de um bom gourmet.
Alcebíades era gaúcho de Lageado. No Vale do Taquari toda família italiana tinha pelo menos um padre. Algumas até mais de um. Os irmãos viraram médicos, advogados e engenheiros. O garoto Bide, como não demonstrasse nenhuma habilidade específica, foi empurrado para o sacerdócio com muita convicção e sem que tivesse qualquer aparente vocação. Os pecados da luxúria, soberba ou avareza não o incomodavam tanto. O que lhe causava crises de culpa e horas de confessionário era a gula. Não fugia de um bom churrasco de costela e nem de um galetinho na brasa. Macarrão então era a sua especialidade. Carne de porco era objeto de sua paixão. Outra fraqueza sua era o futebol. Gremista de carteirinha, Padre Alcebíades não perdia um jogo sequer do seu time na TV e às vezes no estádio. Xingava adversários e mães de árbitros com a desenvoltura e o repertório de um estivador. Mas isso, na sua concepção de sagrado, Deus perdoaria. Eram só momentos de puro desvario lúdico.
Pois foi justamente durante um Grenal de final de campeonato gaúcho que Padre Alcebíades, em frente à TV, sentiu um aperto forte no peito seguido de uma dor lancinante. Lembrou-se imediatamente de sua última visita ao médico, quando este lhe dissera que ele tinha mais colesterol do que sangue correndo nas veias e que sua pressão arterial estava muito além dos limites. Entrou em pânico, gritou e desmaiou. Algum padre próximo o acudiu. Ele acordou no hospital e soube que já tinha sofrido duas paradas e que iria imediatamente para a cirurgia. Três safenas e uma mamária foi o saldo final da aventura. Cirurgia complicadíssima que durou quatro horas. Nasceu de novo!
Tempos depois apareceu na casa dos pais de Pedrinho, na hora do jantar como de costume. Comeu pouco, evitou as frituras e caprichou na salada. Contou em detalhes o enfarto do miocárdio que sofrera. Narrou com as minúcias de um cardiologista a dor aguda no peito, os momentos de pura paúra que passara no hospital, as paradas cardíacas, elogiou demoradamente os cirurgiões que lhe salvaram a vida, num relato pós-jantar emocionado que durou mais de uma hora. Pedrinho e seus pais ouviram tudo com muita atenção e preocupação com a saúde do querido pároco.
Mas no final Pedrinho disse: - “padre, posso fazer três perguntas?”
- “Claro meu fiho” disse o religioso. Então mandou:
- “O senhor acredita na vida eterna, não é?”
- “Óbvio filho!”
- “E o senhor sempre diz que a vida eterna é a glória de estar junto ao Criador e que isso deve ser muito bom, não é?”
- “Sim filho!”
- “Então porque o senhor tem tanto medo de morrer?”
O religioso deu uma resposta evasiva, tentou explicar que os seres humanos, na sua pequenez diante de Deus, sentem medo de morrer mesmo, que ele era um simples humano, etc, etc......e saiu rapidamente. Nunca mais foi visto na cidade. Alguns dizem que teve outro enfarto e enfim morreu. Outros que largou a batina. Os mais detalhistas juram que ele virou crítico de culinária num jornaleco de cidade do interior e ainda dá uns pitacos sobre as últimas contratações do Grêmio. O estilo narrativo é inconfundível. Ah, e que se casou com uma mulata de seios avantajados e tem quatro filhos.

terça-feira, 31 de maio de 2011

Interrompendo a sequencia...

das novas letras de músicas, posto hoje um antigo soneto.


MÁSCARA

Um dia eu fui observador
E distinguia odores de gasolina.
Um dia eu fui conciliador
E exalava, ao falar, pura morfina.
Um dia elaborei em minha oficina
O esboço de um amor puro e completo
E lapidei, com uma guilhotina,
O preterido que acabou predileto.
Mas meu olhar correto e instigador,
Profundo e com fama de revel,
Se tornou vagabundo e namorador.
E sem mais linha no carretel
Amei amores rápidos e discretos
E suei um suor frio, grosso e cruel.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Esta é a mais nova

letra de música da nova safra, também em fase de ajustes na harmonia!
É propositalmente canalha e malandramente machista, eu sei.


ONDE TEM FUMAÇA

Onde tem fumaça costuma ter fogo
Dependendo do jogo
O time do craque fracassa.
Juro que não é pirraça
É alarme de perigo
Por isso não sei se consigo
Gostar do sujeito sem graça
Que você chama de amigo.

Você diz que dois não brigam quando um não quer
E diz com cara amarrada, com voz de pito
Mas não sei se acredito em amizade de homem e mulher.
Só se for comigo eu acredito.
Você acha que só eu acho você carnuda
Esse cara que tem costeletas e voz de carpete
Parece arroz aguado que do garfo (outro) não desgruda
Só podia ter saído da internet

Prá resolver a questã proponho um teste, querida Isabel
Chame o bacaninha prum motel
E se por pura amizade ele resolver negar
Eu corto um dos algos que eu tenho em par.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Continuo na doce tarefa

de divulgar as novas letras de músicas que estão jorrando aos borbotões. Esta já está musicada pelo meu amigo Ítalo Peron, necessitando apenas de ajustes finais que em breve serão feitos. Importante ressaltar que esta letra, assim como todas as outras, não se baseia em ninguém especificamente mas são fruto de experiências de vida prospectadas aqui e ali.



SAMBA DO FALECIDO

Nosso amor desenganado
Tantas vezes adiado
Umas vezes assumido
Outras escamoteado
Foi amor de saideira
Amor de mocinha e bandido
Amor de manter escondido
Dentro de uma geladeira.

Um amor meio imprudente
Meio doce, meio ardido
Inocente e atrevido
Erudito e reticente
Amor de língua e de dente
Amor de frente e de fundo
De escândalo em shopping center
Amor vazio, amor vagabundo.

Amor que ficou desbotado, perdeu colorido
De tantas vezes salvo por um triz.
E por aí, você me chama de falecido.
Tudo bem mas eu duvido que você foi infeliz.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Mais uma

letra da nova safra de músicas, cuja melodia ainda está sendo acertada!



PRIMEIRAS CARTAS


As primeiras cartas sempre são as melhores
A paixão ressurgida, primeiros instantes de antigos amores.
Falam de saudades, de doces meias verdades
São palavras de brisa dissipadas no vento do tempo
Dizem peculiaridades em tom de sutil alarido
Lembram que às vezes somos mocinho em outras bandido
As primeiras cartas devem ser bem guardadas
Devem ser escondidas nos vãos da saudade e memorizadas.

Ilusões divididas
Promessas de vida em comum
Um pouquinho de amor fica nessas palavras quando relidas
E aquele futuro que se transformou em nenhum
Continua ecoando, falando sozinho, vivendo outras vidas
Para que fiquem bem longe dos olhos meus
As palavras difíceis das
Cartas finais que só falam de adeus.

sábado, 7 de maio de 2011

Apresento hoje em primeira mão

mais uma letra de música da safra nova!



JOGO DE XADREZ


Vem cá mais uma vez
Isso nunca foi difícil
E em bom português
Que também nunca foi castiço
Quero dizer que se te magoei já faz um mês
Vamos economizar esse joguinho de xadrez.

Tem meia razão aquele que diz
Que a pulga não morde duas vezes no mesmo lugar
Mas, tenho exemplos ao meu lado
Tanto amor desenganado
Sobreviveu por um triz

Por isso eu peço bis
Os teus olhos sorridentes
Nos deixarão entrar
Eu e minha escova de dentes
E se eu deixar novamente escapar a estupidez
Colaborarei feliz com a sua justa viuvez.

terça-feira, 3 de maio de 2011

ANIVERSÁRIO!!!

Ontem esse blog completou um ano!
Obrigado a todos que o prestigiaram e ainda prestigiarão!!!

Volto hoje

com o segundo poeminha que escrevi para crianças. É inofensivo!


O REMÉDIO, COISA MAIS DESAGRADÁVEL.


O remédio é uma coisa sem graça
Que a gente tem que tomar
Quando aquela dorzinha não passa.
Tem cor de bala de morango
E cheiro de framboesa
Mas o gosto é de café
Coado em meia com xulé.
Ele faz bem pra gente
Quando a gente está doente.
Mas bem que poderia ter o gosto
Igual ao cheiro que a gente sente.

sábado, 30 de abril de 2011

Uma safra nova

de músicas novíssimas está vindo por aí! Às vezes a inspiração nos visita várias vezes num curto espaço de tempo e as letras brotam às pencas. Algumas vem até já com a música inteira na cabeça. É o caso desta!
A primeira estrofe deve ser cantada de acordo com a acentuação, com a sílaba tônica deslocada.



TONÍCA


Silábas tonícas podem ser trôcadas
Como ámores ântigos às vezes são.
Sacúdir o ranço da metríca môfada,
Traz pálavras bônitas de sopetão.

Muitas vezes eu acho que estou abafando,
Conseguindo sucesso com uma invenção.
Mas quanto mais eu invento menos ela nota
E nota por nota, silába por sílaba meu
Samba entorta e vai desencantando.

Quem dera eu tivesse o poder da palavra
Ou conhecesse os meandros de uma canção.
Sei que então ela viria aos meus braços na hora
E dois mil novecentos e noves fora
Eu conquistaria a sua atenção.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Mais um

soneto antigo, recuperado no fundo de uma gaveta!


NOITES MAL DORMIDAS

Meu sono acaba em soluços abafados
E se acordo, apenas eu e a lua,
Há de ser você, faminta e nua
A povoar meus sonhos acumulados.
Sinto frio e eventualmente choro
Ao inflar os pulmões com o ar maculado
De teu calor e do perfume destilado
Em minha pele e no lençol sonoro.
Ah, sempre a tua ausência dolorida
Transformando-me em meu próprio algoz
E no de minhas noites mal dormidas.
Mas tua presença no dia seguinte,
Incerta como inesperada a partida,
Me faz perplexo, observador e ouvinte.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Assim como uma mão

que não encontra um bolso para morar, a sensação de inadaptação é uma das mais incômodas. Esse sonetinho antigo fala justamente disso.


CACOETE

Um sopro cálido de fim de inverno,
Tão triste quanto vão e inusitado,
Mais quente que a ante-sala do inferno,
Mais vazio que a cidade num feriado.
Um vácuo gélido que me vem à mente
E vai descendo por caminhos estreitados,
Tomando tudo o que aparece pela frente
E ao coração de sonhos desviados.
Afundo naus apagando o farol,
Transporto mágoas sem pagar o frete,
Confundo o mundo desligando o sol.
No bolso não restou nenhum chiclete,
No cooler não restou nenhuma skol.
No rosto, só restou o cacoete.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Espantar fantasmas....

Para mim, era angustiante como esse soneto antigo, que recuperei revendo velhos arquivos, os físicos e os imaginários.


SOMBRAS

Perversas sombras do meu futuro,
Agudas dores do meu estômago,
Olorosos perfumes do meu âmago,
Impossíveis luzes do meu escuro.
Doloridas mágoas do meu passado,
Fugidios hábitos dos meus temores,
Injustos ódios de meus ex-amores,
Incomodas pedras em meu calçado.
Minha colheita de frutos que não te dei,
Minha história de glórias que não dividi,
Minhas más atitudes que não curei.
Meus resíduos não biodegradáveis,
Árvores e flores que nunca plantarei
Permitam-me dias mais agradáveis.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

VIDA DE CORINTIANO É DIFÍCIL....

Eu sei, eu sei. Um dos meus vários amigos corintianos (é como ter um amigo muçulmano, você respeita mas não concorda), o violonista Cláudio Duarthe, um dia me contou uma história triste de um jogo do Corínthians que ele foi assistir com um amigo, foi uma roubada, o time dele perdeu (hahaha), etc. etc... Na mesma hora saiu uma letra que ele mesmo acabou musicando.
Aí vai ela!



LEGAL PRÁ DANAR

Cheguei da farra as 8 da manhã, ao meio dia o Zé telefonou,
Desliguei dizendo que era engano mas o Zé muito insistente novamente ligou.
Dizendo que o “Coríntia” ia jogar, me convidou prá porfia
Mesmo sem mim ele ia mas se eu fosse ia ser legal prá danar.
Papo chiclete acho que funcionou pois o meu sono leve logo passou,
Quando vi estava em pleno Pacaembú e fui logo sentindo a cutucada do destino,
No meu ombro tinha um urubú, não tinha nenhum lugar
E era uma semifinal
E eu, pensando, tá danado, que ia ser legal prá danar.

Foi quando vi chegando a Tropa de Choque,
Se escapasse prometi cortar o Nhoque,
Sentia cheiro de tapa no ar
Alguma coisa então começou a piscar,
Fomos pulando o portão, com o que piscava na mão
E de repente, ói nós na numerada.

Era o domingo mais lindo,
Maior programa de índio,
Só faltou lá o Juruna
O Timão perdeu a peleja
Foi 1 a 0 pro Braga
Quase que fico louco e me acabei
Me acabei na cerveja.

Na barraquinha o casal
Lua de mel e coisa e tal,
Môre prá lá, môre prá cá,
Prá compensar a roubada
Só mesmo um bom de um cafuné,
Olhei pro lado e vi Zé....

quinta-feira, 31 de março de 2011

Às vezes é bom....

deixar a mente vagar por aí e escrever a primeira estória absurda que nos aparece!



ESTÓRIA ALEATÓRIA SOBRE UMA POBRE RIMA



Vi um ET dançando salsa sobre um disco voador.
Juro.
Tirei uma foto e mandei para os jornais.
Furo.
Fui ao primeiro bar e tomei o primeiro uísque.
Puro.
Vi que estava sem dinheiro para pagar a conta.
Duro.
Tomei mais dois uísques, já que não ia pagar mesmo.
Apuro.
Saí na moita e com vontade de mijar.
Muro.
Terminado o ato parei para escarrar.
Verdescuro.
Ergui a cabeça e continuei a caminhar.
Futuro?

sábado, 26 de março de 2011

Mais um...

soneto perdido no tempo, que achei por acaso!


SENHORITA

Tem tanto charme essa linda morena
Que mesmo pequena essa senhorita
De tão dengosa, cheirosa e bonita
Não tem de meus olhos nenhuma pena.
E aquele seu beijo que me perfuma
Calmo, profundo e tão diferente
Me faz crer que a morena, inclemente,
Não tem de minha boca pena nenhuma.
E me ama e me ama tão fervente,
Que minha alma, isolada em quarentena,
Sofre de um calor tranqüilo e doente.
Chegou de repente essa linda morena
Que de meu coração afluente
Não tem, de fato, nenhuma pena.

segunda-feira, 21 de março de 2011

E hoje voltamos com os Colóquios Insensatos!!!

COLÓQUIOS INSENSATOS 11


- Aí Luiz Augusto, aaaiiiii....isssso....
- Vem cá Juju, deixa eu te pegar.....vou te beijar todinha todinha...
- Aaaai Luiz Augusto, que boooommm........
- Chhhuip......smack.......
- Isso Luiz Augustinho.....vai descendo.......aaaaaaiiiiii.......issso....
- Smack.....chhhuip......
- desce mais Guguzinho....isssso.....aí messsmo....uuuuuiiiiiii....
- Chhhhuip....smack......
- Desce mais Lu.....isssso....desce mais....desce mais......que loucura....
- Smack.....chhhhuip.....
- Desce mais.....desce mais.....MAIS.............porque você parou Luiz Augusto?!
- Juliana....prá descer mais só se eu descer da cama!

quarta-feira, 16 de março de 2011

Há algum tempo....

Não postava um soneto aqui. Então hoje resolvi postar este, escrito há muitos e muitos anos.



SEDA NEGRA


Esses teus cabelos de seda negra,
Esse teu rosto de contorno grego,
Não cabem dentro de nenhuma regra
Mas na doçura de teu desassossego.
Essa pele morena que incendeia,
Esse carinho leve que desconcerta
Me envolvem como a um inseto a teia
Deixando a alma escancaradamente aberta.
Não provarei de teu mortal veneno
Enquanto o medo não me abandonar,
Enquanto não curar essa dor do mundo.
Resistirei a esse olhar moreno
Enquanto resistir a razão salutar
Que irá durar apenas um segundo.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Qualquer semelhança....

Com fatos e pessoas reais, trata-se apenas de mera coincidência. Segue um conto da nova safra!




A PAIXÃO DE DEJANIRA


Dona Dejanira não saia do lado do leito de seu marido no hospital. Há duas noites dormia na poltrona, contrariando os médicos que recomendavam cuidados em razão de sua idade. 82 anos bem vividos. Mas ela achava, porque precisava achar, que Frederico Augusto, aos 88, necessitava de sua presença. Recebia as visitas dos filhos e parentes no hospital com a jovialidade e o frescor de uma menina. Conversava longamente com os filhos, noras e netos e parecia não precisar de descanso. Ela achava que devia isso ao marido, que cuidou dela como uma princesa durante tantos anos.

Frederico Augusto escorregou e caiu no quintal de casa. Fraturou o fêmur. A idade avançada impedia procedimentos cirúrgicos. Deitado, passou a ter problemas respiratórios que se agravaram muito. Os médicos não davam esperanças a Dona Dejanira. Era questão de dias, talvez de horas.

Na São Carlos de 1946 Frederico Augusto conheceu Dejanira num baile. Recém formado em direito na capital encantou-se perdidamente pela moça clara, de olhos azuis e semblante tranqüilo. Ela não notou a presença dele. Estava com o coração em outro lugar. Seu namorado desde os 12 anos de idade, André, estava partindo para a capital para estudar medicina. Naquela época isso significava fim de namoro em razão de distancias intransponíveis e comunicação precária. Restariam as cartas, mas as cartas amarelam com o tempo. Chegaram a pensar que poderiam se casar imediatamente, mas por qualquer motivo as famílias não concordariam e o assunto se perdeu. Frederico Augusto procurou saber quem era a moça Dejanira. Insistiu tanto que namoraram, casaram e tiveram dois filhos homens. Juiz de Direito, Frederico Augusto mudou-se com a família para Ribeirão Preto e depois para a capital, onde os filhos foram criados. Dejanira nunca mais ouviu falar de André.

O médico entrou no quarto e foi definitivo com Dona Dejanira, que estava cochilando. Ela deveria chamar os filhos naquela madrugada. O quadro se agravara muito. Os filhos chegaram já com olhos vermelhos, os demais parentes foram avisados, mas por volta das 4 da manhã, na UTI, Frederico Augusto começou a reverter a gravidade. O médico se mostrou surpreso. Como um homem tão franzino e idoso poderia melhorar tanto e em tão pouco tempo? Mantiveram-no em coma induzido. O quadro respiratório era estável. Talvez isso durasse mais alguns dias, talvez meses. Os médicos não sabiam dizer.

Aquele corpo marcado pelo tempo voltou para o quarto e Dona Dejanira estava mais aliviada com ele ali ao seu lado. Mesmo que inerte, calado.

Na tarde de uma terça-feira chuvosa a porta do quarto de hospital se abriu e uma senhora baixinha e bem vestida entrou. Dona Dejanira levantou-se rapidamente e já disse: “acho que a Senhora se enganou de quarto”. “Não me enganei não Deja”, disse a senhorinha referindo-se a ela pelo apelido de moça. “Não lembra mais de mim né?” Dona Dejanira apertou os olhos, observou por alguns segundos aquele rosto pequeno e com um largo sorriso disse bem alto: “Ana Cecília”!!!

Na infância e juventude foram amigas inseparáveis. Confidentes, irmãs, comadres, enfim, aquelas amizades que a gente leva pela vida afora e de vez em quando sente saudades pensando em como estará aquela pessoa. Há muitos anos não se viam!
Conversaram longamente, sobre tudo e todos, passado e presente. Ana ficara sabendo das condições de Frederico Augusto através de amigos. Pena que Fredinho estava em coma, pensou Dejanira. Ele adoraria ver Ana Cecília. Depois do longo papo Ana enfiou a mão dentro da bolsa e a deixou lá por alguns instantes dizendo: “Deja, eu preciso me retratar com você e corrigir um erro terrível. Nem sei se você vai me perdoar”. Dona Dejanira perdeu o sorriso e esperou o que viria. “Lá em São Carlos, na época em que o André veio pra Capital, lembra?” disse Ana. “Sim”, limitou-se a responder Dona Dejanira. “Pois é”, continuou Ana, “como eu era a sua melhor amiga, ele me deixou uma carta e pediu que eu a entregasse a você assim que ele partisse, mas eu não entreguei”, disse isso já puxando o envelope amarelado da bolsa. O velho coração de Dona Dejanira bateu mais forte e ela perguntou: “como assim não me entregou”? “É uma longa história Deja, mas antes leia a carta”.

Dona Dejanira abriu o envelope e suas mãos tremiam um pouco. Começou a ler aquelas palavras escritas com caneta tinteiro de cor azul. Uma letra bonita que ela reconheceu imediatamente como sendo a letra de André, que na época da letra bonita ainda não era médico. Entre juras de amor eterno ela leu as seguintes palavras: “por isso meu amor, não posso viver longe de você. Pensei muito e quero pedir a sua mão em casamento. Não me importa se nossas famílias acham que somos novos demais, se eu não tenho ainda condições de sustentá-la como você merece. Acho que temos que nos casar agora, não deixar para depois, e você vem morar comigo em São Paulo. Você é o amor da minha vida e quero começar a minha vida ao seu lado. Se você pensar assim também e estiver disposta a fazer sacrifícios no começo, me escreva e eu voltarei para te buscar, nem que tenhamos que fugir. Seu, eternamente, André”.

As lágrimas vieram imediatamente aos seus olhos. “Ana, como você pode me esconder essa carta? Isso mudaria toda a minha vida! Você sabe muito bem o quanto eu o amava! Eu largaria tudo e me casaria com ele, você sabe....” “Sim Deja, eu sei. Por favor me perdoe se você puder. Esse segredo eu nunca te contei, traí a sua confiança. Eu também era secretamente apaixonada pelo André e tinha esperanças de que se ele te esquecesse, quem sabe se apaixonasse por mim. Não é justificativa...eu sei. Ele era o moço mais bonito da cidade, alto, forte, de boa família. Era tudo o que uma moça poderia querer, por favor me perdoe”. “Sim Ana, eu sei, eu sei e desconfiava que você gostasse dele também, mas isso?!...como eu não respondi a carta ele deve ter imaginado que eu não queria me casar com ele”! “Ah meu Deus....” disse Dona Dejanira levando as mãos ao rosto.

“E o que aconteceu depois?” perguntou Deja. “Depois de um tempo ele ficou arrasado, realmente pensou que você não queria se casar. Até hoje não entendi bem porque ele não escreveu diretamente a você, timidez, receio talvez. Me escreveu algumas vezes perguntando de você, até que eu disse que você estava de casamento marcado com o Fredinho. Só então ele resolveu que iria te esquecer. Se casou em São Paulo, teve duas filhas e alguns anos depois sua esposa faleceu. Hoje ele é viúvo e eu ainda mantenho contato com ele, de vez em quando. Eu também já contei essa história para ele e ele me perdoou. Quer te encontrar”. “Como assim???” perguntou Dona Dejanira. “Deja, eu estou aqui para tentar corrigir esse meu erro terrível. Sei que agora é tarde, mas ele sabe que o Fredinho está quase morrendo e quer apenas te encontrar e conversar. Ele se aposentou como médico e mora aqui perto, inclusive”.

Frederico Augusto teve várias recaídas. Três paradas cardíacas e foi ressucitado com sucesso; e permanece em coma. Dona Dejanira, sentindo-se uma adolescente, passou a se encontrar secretamente com André, agora um senhor muito distinto. Com menos cabelos, é verdade, mas com o mesmo porte e os mesmos olhos verdes faiscantes que ela adorava. Saem para almoçar, para jantar, vão ao teatro, a bons restaurantes e passam muito tempo na casa dele. Muito tempo. Os filhos, que nem imaginam isso, acham que Dona Dejanira remoçou uns dez anos e, inexplicavelmente, anda arrumando o cabelo e até comprando lingerie.

Quando alguém pergunta do marido Dona Dejanira diz: “O Fredinho?.....ai meu Deus....é incrível né....mas ele não morre!!!”

terça-feira, 1 de março de 2011

Hoje, com o humor...

abaixo da linha do Equador, posto um poeminha despretensioso que eu gostaria de dedicar a algumas pessoas!




TECNOLOGIA


A sony e a motorola estão finalmente fabricando
A última geração de desconfiômetro digital.
É informatizado, tem bip e vibra-call.
Vou te dar um no natal.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

E os Colóquios Insensatos...

voltaram!



COLÓQUIOS INSENSATOS 10


- Seu nome qual é meu filho?
- É...João Ignácio de Oliveira.
- Sim....você está aqui na lista.
- Mas....estou achando estranho....o Sr. é quem eu estou pensando?
- Quem você acha que eu sou?
- Não sei....vestido assim, com essa barba....o Sr. parece Sss...são Pedro? O guardião dos portões do céu?
- Seu criado.
- Mas eu não estou entendendo, lá embaixo eu matei, roubei, estuprei, fiz o dia...desculpe, fiz muita coisa errada. Eu não deveria ir para outro lugar?
- Não sei meu filho, você está aqui na lista. A lista nunca falha, portanto, alguma coisa boa você deve ter feito. Não se lembra de nada?
- Assim...deixa eu ver....de bom, bom mesmo, não estou me lembrando no momento, mas eu sempre gostei de música boa sabe?! Sempre odiei a música comercial, essa gente que gosta de pegar a arte e banalizá-la para ganhar dinheiro, sabe?! Acho isso terrível.
- Então está explicado, pode entrar meu filho. E fique tranqüilo que essa gente vai toda para o outro lugar.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Escrever para crianças...

é um desafio imenso! Já tentei bastante e apenas alguns textos se salvaram. Dentre eles este:




BARATA, ESSA CRIATURA ADORÁVEL


A Barata não pica.
Ela não tem peçonha.
A Barata não arranha.
Ela não tem unha.
A Barata não morde.
Ele não tem dente.
A Barata não gruda.
Ela não tem cola.
A Barata.....ela tem é medo de sola.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Minha singela homenagem...

ao melhor dia da semana.




SEXTA-FEIRA A TARDE



As horas chegam inteiras.
A brisa barulhenta de um ventilador sopra incessante.
Sexta-feira a tarde, suplicada há uma semana.
O momento mais lúdico.
O piano mais afinado.
O céu mais azul.
O jantar mais saboroso.
O sono dos justos.

Olhar o teto.
Um estalo no pescoço
E a vida volta.

Retomar o olhar.
Antes contar as primeiras estrelas
A dívidas impagáveis.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Na época em que...

eu escrevia sonetos, um dia escapou este:




SOLIDÃO DEFINITIVA



A noite é longa e fria.
Não me é dado saber o porque,
Nem como, mas só penso no que
Tua ausência me causaria.
Penso em não estar contigo
Tanto quanto na solidão definitiva
Que improvável, todavia aflitiva,
Azeda a vida, destila o castigo.
Penso em você agora e talvez
Como se incerta a tua permanência,
Como se fosse a última vez.
Tento adequar meu paladar à ciência
De sorver a doçura que brota abundante
Do sorriso que traduz tua transparência.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

De volta à série....

dos colóquios insensatos!



COLÓQUIOS INSENSATOS 9



- Pois é Alípio.....a vida é assim.
- É Florípedes, é mesmo....
- Sua família esteve aqui no domingo não é?
- Só o meu mais velho Florípedes, já conversamos sobre isso, lembra?
- É mesmo Alípio, eu tinha me esquecido!
- E seus outros filhos, não vem nunca?
- Já falamos sobre isso também Florípedes, meus filhos são muito ocupados, cada um mora numa cidade, para eles é difícil... além disso tenho 23 netos e 12 bisnetos. Sei o nome de todos eles e eles também são muito ocupados. Mesmo o meu filho mais velho não vinha me ver há dois anos...é que mês passado foi meu aniversário, lembra?
- Verdade Alípio, já falamos sobre isso, desculpe, acho que estou ficando velho e esquecido.
- Imagine Florípedes, você ainda é novo, está com 86 né?!
- É Alípio, faço 87 em maio, ou será agosto?!!!
- Então, você vai ver....depois dos 100 o tempo passa voando...

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Um pequeno poema.

HIATO


Na oportunidade em que a vida nega as oportunidades,
Na ocasião em que a vida não cobra preços de ocasião,
No tempo em que a vida só faz perder tempo,
No momento em que a vida se faz de poucos momentos
E os enigmas mais se embaralham,
Aí me encontro.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Escrever um conto novo....

é sempre um desasfio imenso. Este é da novíssima safra. Minha modesta versão, talvez, à clássica estória da galinha dos ovos de ouro!






AS ESTÓRIAS E DESESTÓRIAS DE UM CACÓFATO


Machadão acordou meio-dia. Espreguiçou, coçou o saco demoradamente e fez café de coador. Sentou no colchão que explodia espuma pelos buracos e pensou: “Pôrra, que noitada!” Na noite anterior fumou um beck, tomou muita cachaça no boteco do Miltão, jogou snúqui, bateu pandeiro e até brigou, mas não se lembrava com quem. Um estranho silêncio invadia o Morro do Piolho naquela ex-manhã. O sol de dezembro esquentava o barraco até transformá-lo num micro-ondas gigante. Passou água na cara e foi prá rua, de calção, havaianas e camiseta no ombro. Apesar de ser uma figura estranha, do alto de seus 1,86 o sarará calvo de 32 anos de idade impunha respeito no morro. Era amigo da malandragem, dos donos do pedaço. Foi descendo e acenando: “Fala cumpádi”.... “Diz aí maluco”...”Tudo na regularidade?”....o Capão Redondo inteiro era o seu território.

Com as sobras dos trocados da última venda de crack pegou um ônibus para a Zona Oeste. O objetivo era zanzar, circular até vislumbrar a oportunidade de fazer um troco.

Seu nome era um cacófato. Décio Machado. Quando pequeno os moleques do morro gritavam em coro quando ele passava: “E desce o machado”. Ele odiava isso. Reclamava com a mãe, quando ela estava sóbria. Quando não estava só tomava porrada. Perguntava porque não tinha o nome do pai e ela respondia: “eu nem sei quem é seu pai seu bostinha”. Começou com pequenos furtos e logo já estava com o seu primeiro trezoitão de número raspado nas mãos. Matou três até os 13 anos. Em alusão às piadas com seu nome carregava uma machadinha no calção e vez ou outra decepava algumas partes de suas vítimas. Descia o machado. Na Febem virou Machadinho. Quando cresceu virou Machadão.

Desceu do ônibus na Avenida Rebouças, três da tarde. O calor estava um inferno e o céu começava a escurecer, o que garantiria o ibope do Datena no fim da tarde. Desceu a avenida a pé, observando os carros. Pajero é fusca, pensou! Não se conformava com a quantidade de carros importados na zona rica da cidade. No farol com a Estados Unidos o carrão preto parou com o vidro aberto, numa distração imperdoável do motorista. Machadão bateu o olho e o rolex dourado tiniu, sorriu pra ele. Rápido encostou, mostrou a automática escondida no calção e já anunciou: “Perdeu tio! Passa o rolex”. Vazou rapidinho com o relógio no bolso e sumiu numa travessa.

Quando tinha 16 a mãe morreu assassinada por um namorado. Ele estava na febem e ficou sabendo dez meses depois. Sentiu alívio. Saiu e caiu na rua. Morou na Sé, na entrada do metrô e tomou muito banho no laguinho da praça, piscina particular dos garotos. Cheirou muita cola e roubou muito velhinho. Depois dos 18 caiu num assalto a uma farmácia. Puxou 4 anos de cana. Saiu, matou dois. Puxou mais 8 anos e saiu em condicional.

Na travessa tranqüila sentiu-se seguro para examinar o rolex com seus olhos bem treinados. “Essa merda é de verdade”, pensou. “Garanti o meu natal e o dos moleques”, foi seu pensamento imediatamente seguinte. Oferecido nos canais certos a máquina iria render 700, 800 paus. Quem sabe até milão.


Machadão tinha dois filhos. Um com 14 e outro com 12, ambos forjados em visitas íntimas e frutos de seu caso de quatro anos com Jéssicah, com agá no fim, como insistia em enfatizar. Era usuária de crack e vivia fora do ar. Os garotos foram criados pelo vento. O mais velho já morava na fundação casa, mesmo endereço onde o pai morou e que só mudou de nome. O caçula segurava a onda até onde podia, sabe-se lá como. Numa estranha compulsão em premiar a honestidade Machadão pensou que seria o único merecedor de um presente de natal. Talvez um PS3 de origem obscura.

A noite, de volta ao barraco, segurou o rolex com olhos de quem não quer largar. Fuçou, mexeu e resolveu que iria curtir o produto por uns dias. Apareceu no boteco do Miltão com ele no pulso. Sucesso. Catou umas mina do morro com ele. Mais sucesso. O barato era de ouro e ouro faz sucesso até com madame. Alguns dias depois, antes de dormir, começou a fuçar nos botões. Começou pelo mostrador de horas e minutos. Um relógio analógico de ouro não se vê toda hora. Puxou a tarraxa mais para cima e começou a brincar com o mostrador dos dias. Era 18 de dezembro e sem nenhum motivo ele voltou o mostrador para o dia 13, data em que roubou o relógio. Imediatamente sentiu uma tontura estranha, um barulho de vento nos ouvidos e uma luz branca muito forte o obrigou a cerrar os olhos com força. Quando os reabriu estava sentado no colchão de seu barraco e a luz do dia invadiu o seu olhar. De repente estava com o mesmo calção do dia do roubo e com o conhecido café nas mãos. O relógio havia desaparecido de suas mãos. “Puta que pariu”!!! gritou já pulando do colchão. “Que pôrra é essa”! Saiu de casa atordoado. Perguntou pro vizinho: “que dia é hoje seu Jaime?”. “13 de dezembro, natal tá chegando né?!” respondeu o velho. Voltou pra casa pensando “cacete, esse relógio é o que”?! Voou pra zona oeste. Avenida Rebouças. Fez uma horinha e de repente olha o carrão preto lá de novo. Olha o rolex no pulso do otário lá de novo. Repetiu a ação e levou o relógio outra vez.

Nos dias que se seguiram, deixou o relógio ali, sobre uma mesinha. De vez em quando olhava meio ressabiado para o objeto, pensando nas possibilidades que ele poderia proporcionar. Em algumas noites saiu com ele no pulso outra vez e comeu novamente todas as mocinhas que já tinha comido antes por causa dele. Isso ele não recusaria. Viveu mais ou menos tudo o que tinha vivido até o dia 18, com a vantagem que agora sabia tudo o que iria acontecer. Depois do dia 18 era tudo incógnita. Um avião poderia cair sobre o seu barraco, ele poderia ser atropelado, preso....sentiu medo, o que não era comum e não gostava de sentir. Na verdade, após o dia 18 ele correria todos os riscos que sempre correu na vida. Mas agora era diferente. Ele já tinha sentido o gosto confortável de saber antecipadamente tudo o que iria acontecer. Parecia que agora os riscos eram ainda mais arriscados. Ficou tentado a voltar o mostrador dos dias novamente, mas pensou que não poderia viver para sempre naquele intervalo entre os dias 13 e 18 de dezembro, talvez só mais algumas vezes. Lamentou que o relógio não tivesse mostrador dos meses e dos anos. Voltaria para a sua infância provavelmente. Faria tantas coisas de forma diferente...mesmo sem saber exatamente o que.

Por via das dúvidas, voltou o relógio outras vezes até o dia 13. Ficou vivendo naquele intervalo durante uns dois meses corridos, mas mudava as suas atitudes, fazia coisas diferentes sem saber que estava mudando a seqüência dos fatos de forma perigosa. Por exemplo, num dos dias 13 de dezembro chegou atrasado na Rebouças. O farol onde roubara o rolex estava abrindo e o carrão preto passando. Teve que correr até o semáforo seguinte o qual, para a sua sorte, fechou. Para a sua sorte o trânsito estava lento como sempre. Alcançou o carro e levou o rolex. Mas foi por pouco. A partir daí voltaria o relógio apenas para o dia 14. Muito mais prudente e inteligente.

Fez coisas que não havia feito antes. Exemplo: nos dias que se seguiram ao dia 13 evitou contato com Stephanie, uma mulata tinhosa, cheirosa e gostosa, namorada do dono do morro e que dava o maior mole prá ele. Na verdade ele sempre fugira dela. Sabia o quanto era perigoso. Entretanto, em uma de suas voltas ao passado, resolveu que era hora de encarar, porque se sentia mais poderoso. Esse poder abria o seu apetite. Levou a moça pro barraco e viveu uma noite de sonho. Voltou a essa noite muitas vezes.

Por volta de um dos dias 16 de dezembro passou em frente a uma loja e viu um Playstation 3 na vitrine, igualzinho ao que iria comprar para o seu mais novo. Como não poderia abrir mão do relógio voltou ao dia 16 inúmeras vezes, estudou todos os movimentos da vizinhança, certificou-se de que não havia polícia por perto, até que entrou na loja, anunciou o assalto, quebrou a câmera, levou o aparelho e ainda esvaziou o caixa de quebra. O presente do moleque estaria garantido de qualquer maneira.

Com o dinheiro do roubo comprou uma arma melhor e maior, fácil de ser encontrada no morro. Arquitetou assaltos mais audaciosos porque tinha a vantagem de saber tudo de antemão, de observar, de saber por onde escapar. Supermercados, postos de gasolina, farmácias, não havia obstáculos. Chegou até mesmo a entrar muitas vezes em restaurante fino, muito bem vestido, comer de tudo, beber de tudo e na hora da conta escapar para o dia anterior com o bucho cheio, que ao voltar estava vazio de novo. Mas o prazer de ter experimentado aquela comida de rico, esse ficava.

Foi ao Pacaembú ver seu time jogar, deu rolê com carro importado de test-drive, pegou resultado de megasena, voltou, jogou e ganhou, levou Stephanie a motel caro, foram dias de glória. Parou de roubar porque descobriu que não precisava pagar por mais nada e isso é tudo o que qualquer pessoa pode almejar. Nesse intervalo de cinco dias, que durou quase noventa, viveu como um rei. Almoçava e jantava nos jardins, morava em hotel 5 estrelas, usava roupas caras e desfilava de bacana no morro. O chato é que não podia reter nenhum objeto, comprado ou roubado, tinha que fazer uso deles apenas até mexer no relógio novamente. Sempre que voltava no tempo o dinheiro e os objetos desapareciam e ele tinha que fazer tudo de novo. E tinha que ter método, agir com cautela, não dar nenhum passo em falso. Essa rotina foi cansando. Ele já estava estressado com tanto trabalho e tensão. Além disso havia sempre o receio de que alguém lhe roubasse o relógio reluzente. Seus vizinhos não eram de confiança, pensou, como se fosse pessoa de bem.

Num certo 18 de dezembro resolveu fazer novas experiências, ousar. Com o relógio nas mãos pensou muito e se perguntou: “se essa pôrra faz o tempo voltar deve adiantar também né?!” Hesitou alguns instantes e resolveu adiantar o marcador para o dia 25. Queria saber como seria o seu Natal. Certamente ótimo, com tanta fartura. Quem sabe até na praia? No estrangeiro? Com Stephanie? Ele sabia que a partir do momento em que pressionasse a coroa de volta e ouvisse o clique não haveria mais volta. Hesitou mais um pouco e pensou: foda-se! Clic!

A mesma tonteira, o mesmo barulho de vento e de repente uma sensação de leveza, que nunca sentira antes. Abriu os olhos. Estava pairando perto do teto. “Que merda é essa?” pensou. Ouviu vozes. Olhou para baixo e viu um caixão com o seu corpo dentro. “Caraaaalho Maluco”!!!, coçou os olhos ou o que imaginava que fossem olhos. Era ele mesmo. Ao lado do caixão apenas duas pessoas no seu velório. Miltão, o dono do boteco e seu Jaime, o vizinho. No pulso do seu cadáver lá estava o rolex de ouro. Por algum descuido ninguém percebeu que era legítimo ou ninguém teve coragem de surrupiar a joia do defunto.

De repente foi descendo do teto, tentou pegar o relógio. Não conseguiu. Gritou com força: “Seu Jaime, atrasa o relógio pro dia quatorzeeee”. Nada. O velho tá surdo?! “Miltão, me ajuda peloamordedeus”! Nada. Ainda ouviu seu Jaime comentando com Miltão: “O Machadão não deveria ter andado logo com a mulher do Paraíba”. E antes do que estava por vir teve tempo de pensar que se o relógio marcasse os anos voltaria para a sua infância. Faria tanta coisa diferente...mesmo sem saber exatamente o que!

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Quem acompanha esse modesto blog....

sabe que não costumo postar aqui os meus textos de "não-ficção", mas, assim como o meu cheque especial, tudo tem limite. Eu precisava fazer esse relato a respeito do que vivi na noite de ontem!



ONTEM ESTIVE COM UM DOS GRANDES


O escritor e poeta G.K. Chesterton disse que “há grandes homens que fazem com que todos se sintam pequenos. Mas o verdadeiro grande homem é aquele que faz com que todos se sintam grandes”. Esta foi exatamente a sensação que me ocorreu ontem. O que parecia que seria uma segunda-feira à noite como tantas milhares de outras acabou sendo uma que nunca irei esquecer.
Seis e pouco da tarde recebo um telefonema do meu amigo violonista Ítalo Perón, dizendo que Paulo Vanzolini acabara de lhe telefonar “solicitando” uma roda de choro na casa dele. Eu seria um dos poucos e felizardos convidados. Fui, com o coração aos pulos e com o cavaquinho debaixo do braço. Como recusar a um convite desses?
Lá chegando, desci do carro e tive um surto do que seria algo próximo à Síndrome de Stendhal, aquela sudorese, palpitação, sensação diáfana que se sente diante de uma grande obra de arte. Em poucos segundos eu estaria entrando na casa de Paulo Vanzolini, autor de centenas de obras de arte que eu tanto admiro há tantos anos. Parei, respirei e toquei o interfone da pequena casa de vila.
Na pequena sala já estavam em plena atividade o já citado Ítalo, acompanhado de Fábio Perón no bandolim, Pratinha na flauta, Artur no pandeiro, Cidão ao cavaco e a também anfitriã Ana Bernardo nos vocais. Timaço! No canto, sentado numa poltrona, o velho Mestre! Me apresentei como quem dá a mão a um anjo e disse: muito prazer! Poucas vezes na vida disse essa expressão com tanto significado. A despeito de Ítalo ter dito ao Mestre que eu seria um escritor e compositor (háháhá...”que sé yó”, como dizem os portenhos) já percebi de cara que seria muito benvindo e bem tratado por ele.
Já saquei o cavaco do “case” e me aboletei perto dele, antes que um súbito ataque de pânico sobreviesse. Logo de cara ele pediu “pedacinhos do céu”, letra colocada por ele na imortal criação de Wladir Azevedo. Atacamos. Ao final Paulo Vanzolini estava em prantos e anunciou solenemente que aquela música o emocionava demais. Começamos bem! A partir daí, tudo o que ele disse foi diretamente para mim, olhando nos meus olhos, porque não me conhecia e queria mostrar suas obras e contar suas histórias para mim, como se eu não as conhecesse. Disse (sinceramente) que era uma ousadia da parte dele colocar letra num choro de Waldir Azevedo e que ele deveria estar revirando dentro do caixão. Disse ainda que para ele isso era uma grande honra. Não agüentei e disse sem pensar: “para o Waldir também certamente é”, como se o próprio tivesse me soprado a frase nos ouvidos, lá do além!
A noite foi rolando de forma agradabilíssima e nos intervalos das músicas o “Seu” Paulo foi contando histórias deliciosas, sempre olhando para mim. Contou que se tornou grande amigo de Garoto e que com ele nunca conversou sobre música. Também foi amigo de Jacob do Bandolim e ensinava lições de ciências ao filho dele, Sérgio Bittencourt, quando este era garoto. Foi, enfim, gratuitamente contando grandes histórias sobre grandes pessoas, algumas tristes, outras engraçadas. Um patrimônio histórico absurdo e que deveria ser escrito algum dia, se ele concordasse.
O mais curioso é que “Seu” Paulo, por não se considerar músico e compositor e sim um cientista (também dos bons), contava essas histórias como se estas pessoas todas fossem superiores a ele, como se fosse uma dádiva essas pessoas lhe concederem amizade, como se ele não fosse um grande ícone da música brasileira. Entendi imediatamente que ele se vê num degrau inferior. Incrível!
Em determinado momento começamos a tocar as suas próprias obras, com ele cantarolando baixinho.
Tocamos “Seu Barbosa” e ele me contou que fora uma música encomendada para tirar uma onda com Adoniran. Senti-me tentado a dizer que ouvi essa história contada por ele mesmo no documentário “Um Homem de Moral” (já gastei o DVD de tanto asisitir), mas prudentemente calei e deixei o Mestre falar.
Não tocamos as mais óbvias (Ronda, Praça Clóvis, Boca da Noite) e continuamos singrando os deliciosos mares do “lado B”.
Bandeira de Guerra foi a próxima. Não resisti e disse a ele que acho essa música maravilhosa. Ele me respondeu com olhar de sincera curiosidade; “é mesmo”?
Quando tocamos a maravilhosa “Noite Longa”, “Seu” Paulo não se lembrou que essa música era dele! Incrível! Pensei que isso era o cúmulo do desprezo com suas próprias criações ou talvez um ar “blasé” forçado, de pouco caso, mas, vindo dele, é uma manifestação legítima e perfeitamente compreensível.
Por volta das 11 da noite, sem se despedir de ninguém como é permitido aos grandes, “Seu” Paulo levantou-se da poltrona e subiu as escadas do sobrado. Todos se entreolharam e não foi preciso dizer que o Mestre, nos seus gloriosos 87 anos, estava cansado. Mas a noite estava ganha.
De quebra ainda apareceu por lá Roberto Riberti, parceiro de Eduardo Gudin, Elton Medeiros e Arrigo Barnabé, letrista de obras primas como O Velho Ateu, Águas Passadas, Lenda, Cidade Oculta e tantas outras maravilhas. Conversamos bastante. Que noite!!!
Estar com essas pessoas faz com que nos sintamos, um pouco, como um deles e se o hábito do cachimbo faz a boca ficar torta, talvez um dia eu realmente seja. Oxalá e Inshalá!

domingo, 30 de janeiro de 2011

Em um domingo em que...

os termometros passam dos 30 graus, nada melhor do que um soneto de amor para esquentar ainda mais:




EDIFÍCIO



Congelar a energia do início
É imprescindível a quem quer amar.
O amor deve ser sempre um vício
Daqueles bem difíceis de largar.
Pois senão logo vem o tempo
Com a mania de jogar por terra
Tudo e transformar em contratempo
A dor e a antiga paz em guerra.
Escapar dessa terrível sina
É preservar o amor mais propício
À alma que dele se ilumina.
Conservar intacto esse edifício,
Evitar que chegue logo à ruína
É congelá-lo logo no início.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Sim, podem me acusar...

de ser excessivamente autofágico, metalinguístico. Sempre gostei de ter como tema o ato de escrever. Este é apenas mais um texto cometido em nome disso:



INVERSÕES


Aprendi a apreciar as rimas.
De menino, a distribuir ritmos,
Versificar métricas,
Metrificar versos
E os sentidos.
Empreendi viagens por rios insuspeitos.
Voei por céus nunca voados.
Aprendi a fugir das rimas.
Prescindi da métrica
Dos imprescindíveis versos
Mas nunca fugi dos ritmos.
Adorei o desenho das letras.
Acompanhei ludicamente seus contornos.
Solidifiquei-os na memória.
Decorei meus próprios versos
E as palavras com o sólido contorno
Das inesquecíveis letras.
Nunca esqueci que escrever
É esquecer tudo o que escrevi
E começar do nada,
Do vácuo, da primeira letra.

sábado, 22 de janeiro de 2011

Por mais que não seja uma sensação...

baseada na realidade, existem dias na vida em que a gente se sente abandonado, só, um lixo! Esse sonetinho antigo fala um pouco disso.




FORA DE COMBATE


A todo delito corresponde uma vítima.
A todo rato sujo de sarjeta
Corresponde uma paixão legítima,
Ainda que do outro lado do planeta.
Um vento úmido e frio adverte
Que meu sorriso está fora de combate,
No jogo de sedução que patrocino deu empate,
Minha alma perdeu o ímpeto, ficou inerte.
Meu olhar apaixonado se tornou bovino.
Minha pele alva perdeu textura
E meu amor profundo se tornou cretino.
Um estorvo em meu coração sem ternura
Me faz só, abatido e franzino.
Uma mala sem alça rasgada na costura.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Muitas vezes....

a vida nos impõe tarefas muito difíceis, árduas, inesperadas. Ser obrigado a esquecer alguém que não se quer esquecer é apenas uma delas, talvez das mais impossíveis. Este soneto antigo fala disso:




DESAPARECIMENTO


Hoje de manhã vi você na esquina.
A vi depois, atravessando a rua.
Cocei meus olhos, você estava nua
Em passo lento, rosto de menina.
A tardinha você passou por mim.
Em passos largos, passou bem rente.
Estava então quase transparente,
Numa pressa de quem vislumbra o fim.
E então a noite você foi sumindo.
Como ultimamente já vinha vindo.
E teu sorriso alvo escureceu.
A madrugada veio e foi se abrindo.
Restou apenas teu calor dormindo.
Você finalmente desapareceu.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Hoje é sexta-feira....

...e é dia de retomar os colóquios insensatos. Vamos lá!



COLÓQUIOS INSENSATOS 8


- E então eu, como a nova CEO dessa empresa, convoquei a última reunião do ano, esse brainstorm final, porque quero levar para o Chairman e principalmente para o Board os targets e assignments para o próximo ano.
- Vamos começar já otimizando nosso endomarketing do head count inteiro, para melhorar o nosso break even point, correto?!
- Como faremos? Simples. Antes de mais nada vamos estartar o nosso B2C e dar um follow up diretamente ao CFO. Isso sem esquecer, é óbvio, que o nosso target sempre será o outplacement, tudo dentro do budget e principalmente do overhead.
- Para explicar isso vou passar a palavra para o suply chain management para ele falar do trânsito do benchmarketing. Almeida!
- Hã?......
- É com você Almeida....para falar do trânsito!
- Ah....com essa chuva....levei uma hora e meia prá chegar aqui....

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Lá vai mais um...

poemão escrito há vários anos. Fala sobre o amor e suas vicissitudes, seus percalços e suas armadilhas. Quem não conhece isso?!





RELATO DO DIA SEGUINTE



Acendo mais um cigarro, respiro fundo e me coloco outra vez a teus pés
Procurando pontes que me levem de volta a ti,
Pontas de cordas para reatar os nós, mesmo ciente do que tu és
Porque não queria ver tua alma e de fato a vi.

Faço uso do polegar e do indicador de forma inusitada,
Tapo as narinas e mergulho rumo ao que desconheço e temo,
Estudo as táticas para vencer tua defesa bem armada,
Evito admitir os buracos em nosso barco a pique e incoerente remo.

Sinto faltar as energias que sugas sem cessar, levando embora a alegria,
Levando minha alma embora, confundindo os meus caminhos,
Eu que não sou Fausto e, tácito, aceito um acordo que não pretendia,
Recebendo em troca, parcelados, teus imprescindíveis carinhos.

Procuro saídas e teu coração só me apresenta portas de acesso
E escancaro o meu, inutilmente, posto que já o ocupas,
Ensaio despedidas, treino meus discursos de retrocesso,
Ao tempo em que não dou atenção ao que de fato me preocupa.

Flagro teu olhar percorrendo outros olhares ávidos,
Percebo teu coração desgarrando nas curvas dos nossos desencantos,
Quase aplaudo o espetáculo que armas, ao qual assisto impávido,
Ouço as explicações que não me forneces, cheio de entretantos.

Tento ser duro contigo pela manhã, ao telefone,
Repasso todos os meus conceitos mais racionais,
Acabo não resistindo e te imploro que me proporciones
Teu amor sem medo e teus beijos paradoxais,

Porque quando sinto colar teu corpo ao meu corpo perplexo
E ouço tua voz ecoando em todos os recantos do meu mundo,
Os argumentos se confundem num texto desconexo,
Ainda que eu não saiba o que fazer desse amor profundo.

sábado, 8 de janeiro de 2011

Escrito em tempos...

de guerra fria, ou talvez já quase gelada, este poema ganha vida nova nessa época de exercícios militares e testes nucleares pelo planetão afora!



POEMA INÚTIL APÓS O FIM DO MUNDO

Antes que o mundo acabe beije uma velha simpática de língua.
Antes que a vida se extíngua se aposente em Maceió.
Antes que retornemos ao pó dance nu uma rumba.
Antes que o planeta sucumba assista ao seu último eclipse.
Antes do Apocalipse adote Casanova como exemplo.
Antes do fim dos tempos desligue rapidamente a TV..
Antes do dia D assuma finalmente seu lado vagabundo.
Antes do fim do mundo escreva o verso fundamental.
Antes do juízo final aguarde impávido o seu deslinde.
E não esqueça do último brinde.