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sábado, 18 de setembro de 2010

Aos dez anos de idade...

Fui à praia com a família e, numa tarde em que se prenunciava uma tempestade, minha mãe proibiu que eu saísse de casa. Minha querida avó, percebendo minha contrariedade, disse calmamente para eu esperar porque a chuva iria passar e eu poderia então ir à praia logo depois. Foi o que aconteceu. Nunca esqueci das palavras dela e da lição a qual, numa óbvia comparação, aplica-se a todas as dificuldades da vida. Aos vinte e poucos anos vivi uma cena de intensa chuva, mas agora na Rua Líbero Badaró, centro de São Paulo, onde eu trabalhava. Lembrei da lição de minha avó e o poema que segue surgiu naturalmente, inteiro em minha cabeça. Só tive o trabalho de colocá-lo no papel...



CANÇÃO DA CHUVA


Assim que a chuva passar
A vida vai continuar,
Do ponto onde parou,
Da maneira exata como, em suspense, aguardou,
O final da umidade,
O cessar do vento,
A vida da cidade.
E o cão sarnento aos saltos
Voltará a esbarrar nas pernas dos incautos.
E a mulher obesa sacudirá o guarda-chuva
Ao se levantar, com dificuldade, da mesa
E as pessoas vão, aos poucos, voltar a rua,
Para a calçada úmida, há pouco nua
E a vida vai continuar,
Como sempre continua.
E os vapores exalarão do asfalto
E o sol voltará a brilhar na careca do homem alto
E permanecerão temporariamente os respingos,
Mantendo os objetos brilhantes, lindos,
Como peculiares e solitárias testemunhas.
E um dia a chuva volta, como quem não quer nada,
Molhando tudo, essa mal educada.