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sábado, 30 de outubro de 2010

Un´altro giorno...

E aqui vamos com mais um micro-conto:




COLÓQUIOS INSENSATOS 2


- Mas o que era essa coisa verde?
- Sei lá Selminha, acho que era o braço dele.
- Braço? Mas você não disse que era um troço meio pontudo e fininho?
- Não sei, não sei, eu vi meio de relance e tava escuro.Você sabe que aquele bar é escuro, não sabe?!
- Sei, mas o que ele te disse?
- Nessa hora nada, ele disse depois que passou o troço fininho em volta de mim e meio que me abraçou.
- Então, mas e depois, o que ele disse?
- Ah, ele disse que me achava linda e que o disco voador dele estava ali perto. Queria casar e me levar para o planeta dele.
- E você?
- Não fui né Selminha, eu não estou aqui???

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Dia de inauguração...

Hoje aqui no blog! Há alguns dias comecei a escrever uma nova série de micro-contos baseada apenas em diálogos. Já fluíram vários textos que vou postar paulatinamente.
Eis o inaugural:



COLÓQUIOS INSENSATOS 1


- Fala Alfredão, quanto tempo cara!
- E aí Zé!
- Como vai a vida rapaz?
- Sabe como é, remando contra a corrente...
- Tá mas e aí? Como vai no trabalho?
- É, matando um leão por dia...
- Sei, e a família?
- Ah, lá é assim, casa de ferreiro, espeto de pau.
- Tá, mas porque?
- Você sabe né?! Cada cabeça uma sentença.
- Sei, mas conta mais, o que você anda fazendo de bom?
- Tô devagar, seguro morreu de velho né?!
- E você tem visto alguém da turma?
- Não, mas a pressa é inimiga da perfeição...
- Tá bom, mas vou te ligar para a gente se ver de vez em quando!
- Que bom, quem espera sempre alcança né?!
- Pôrra Alfredo, você não consegue conversar como um ser humano normal?
- Ah Zé, de perto ninguém é normal né?!
- Não Alfredo, estou dizendo assim...você não consegue falar sem usar um lugar comum, um provérbio pô?!
- Ah, até consigo mas falar é fácil, fazer é que é difícil!
- Alfredo, puta papo cansativo esse cara! Você está me irritando muito!
- Calma Zé, quando um não quer dois não brigam!
- Tá bom, então, quem com ferro fere com ferro será ferido. POW!

domingo, 24 de outubro de 2010

Continuando a agradável tarefa...

De postar meus hai-cais, aí vão mais dois:


Vida que vai e vem.
Preceito que não tem jeito
Enquanto se a tem.


Pretendo te amar
Enquanto a amo tanto.
O resto é apesar.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Hoje vou falar de um assunto bacana!

O Haicai. São apenas três versos que privilegiam a objetividade e a concisão. A forma poética de origem japonesa (haiku), no Brasil foi popularizada pelo "Príncipe dos Poetas, Guilherme de Almeida, com sua própria interpretação da rígida estrutura de métrica, rimas e título. No esquema mais tradicional, o primeiro verso rima com o terceiro, e o segundo verso possui uma rima interna (A 2ª sílaba rima com a 7ª sílaba). O meus não são assim tão rígidos...aí vão os primeiros dois:




A árvore cresce
Lenta, porém ciumenta
Do amor que amanhece.


Vôo de gaivota
Passando sobre a casa
Do velho agiota.

sábado, 16 de outubro de 2010

Não dá para disfarçar...

o quanto sou fascinado por estruturas consagradas de composição poética ou musical.
Escrevi muitos sonetos, compus sambas de breque e, mais recentemente, descobri o Cordel. Já postei um texto em forma de Cordel aqui no blog e hoje, depois de passar dois meses escrevendo-o, posto o segundo. Espero que gostem!




O DIA EM QUE O MESTRE JACKSON DO PANDEIRO ENCONTROU MICHAEL JACKSON NO CÉU E DESCEU PRÁ ACABAR COM A BANDALHEIRA NA MÚSICA BRASILEIRA



Mestre Jackson e seu pandeiro
Foi pro céu dos cantadores
E animava o céu inteiro,
Desde o Chefe aos assessores,
Com seu cantar ligeiro
E sua verve sem pudores.

Mas um dia lá chegou
Outro Jackson bem mais novo
E como Maikel se apresentou,
Já fazendo amizade com o povo,
Que logo dele se apiedou
Pois era branco como um ovo.

Mestre Jackson olhou desconfiado
Pra figura do estranho menino.
Parecia um boneco engessado
E no meio um nariz muito fino.
Cabelo bem preto, alisado
E fama de bom bailarino.

E foi falando o rapaz
E o Mestre fazendo careta.
O cabra andava pra trás.
Parecia bem o capeta.
Diz que teve cartaz
E que era filho de mãe preta.

Nasceu de pele escura
E ficou branco o raparigo.
E a razão de tanta brancura
Começou por seu umbigo.
Uma doença sem cura
Um mal chamado vitiligo.

E quanto mais falava bonito
Mais o Mestre ficava calado.
Ficou o dito por não dito
E todo mundo desconfiado.
Ou era um cabra esquisito
Ou era hôme-viado.

E o fato estranho que havia
Que nenhuma explicação tinha
E que o pobre mal escondia
É que quase perdia a linha,
Todo mundo sabia,
Quando via uma criancinha.

Tirante isso era macho
E, dizem, muito bom moço.
No céu sossegou o facho,
Escapou por pouco do fosso.
Mandou passear o diacho
Batendo o pé e falando grosso.

Chegou-se ao Mestre o piá
E foi conversando fiado.
Disse: - “Pois bem meu xará”
Com sotaque todo errado:
- “Lá na tua terra natá
Sou eu o rei do babado”.

- “O povo todo me imita
E sou amado por toda a gente.
Na TV tô bonito na fita
Nem podia ser diferente.
Pois cada CD que apita
Vendo mais que pãozinho quente”.

Mestre Jackson sentiu cheiro
De lorota naquele fulano.
O seu povo forrozeiro,
Povo de lascá o cano,
Que sempre falou brasileiro,
Deu pra falá americano?

O moço tava enganado.
Precisava mudar o enfoque.
Como é que um povo danado
Do Chuí ao Oiapoque,
Que sempre dançou o xaxado,
Ia gostar de dançar roque?

Mas o Mestre preocupado
Era muito precavido.
Contou o palavreado
Pros amigo mais querido.
Luiz Gonzaga ficou abismado.
Noel Rosa de queixo caído.

Ari Barroso não acreditou.
Tom Jobim ficou fanhoso.
A moça Elis quase pulou
Na garganta do mentiroso.
Pixinguinha logo falou:
- “Isso é coisa do tinhoso”.

Vinícius nem deu bola,
Só de olho nas anjinhas.
O elegante Cartola
Esbravejou nas entrelinhas.
E a fofoca tá que rola
Nesse céu de figurinhas.

Velho Lua foi quem disse
No seu tom de presidente:
- “Deve ser até sandice
Desse moço diferente.
Eu só acreditava se visse
Isso tudo pessoalmente”.

Mestre Jackson ouvindo isso
Declarou solenemente:
- “Pois assumo o compromisso
Da tarefa mais do que urgente.
Desço pra ver o feitiço
Que abate a nossa gente”.

Dito isso não se ouviu mais um piu.
O Mestre logo pegou sua tralha.
Sapato, mochila, chapéu e cantil.
Gravata, bornal, pandeiro e navalha.
Foi-se embora pro Brasil
Pra dá jeito nessa bandalha.

Foi voando sem cegonha
Que isso é luxo prá quem nasce.
Foi chegando sem vergonha
De encarar qualquer impasse.
E o que viu foi coisa medonha.
Foi salada sem alface.

A TV era uma avacalhação.
Música ruim vinha a galope.
Não se ouvia um samba-canção.
Só sertanejo, pagode e hip-hop.
E era tudo ajambração
Prá conseguir mais Ibope.

O rádio não era diferente.
O Mestre quase desanima.
Pois a música daquela gente,
Sem melodia e sem rima,
Não descia nem com aguardente.
Era um furdunço de estima.

E tinha muita estação
Que nem música tocava.
Era só uma falação
Das igreja que tentava
Enganar os sem-noção.
A coisa tava muito braba.

E nos baile do interior
Era de cair o queixo.
O forró que era um primor
E era tocado sem desleixo
Deu lugar a um terror
Chamado de reboleixo.

Ninguém mais se importava
Com as músicas de antigamente.
Aquelas beleza que dava
Alegria no coração da gente.
Só o barulho imperava,
Só a porqueira era vigente.

É a ignorância que se lastima
E faz o povo virar ralé.
Não adianta ter bom clima
Pra colher um bom café
Se quem foi pro andar de cima
Ninguém lembra mais quem é.

Nos seus dia o povo amava
Uma música de qualidade.
Tinha caboclo que suava
Pra ganha notoriedade.
Hoje em dia o que conchava
Vira logo celebridade.

Qualquer cabra embusteiro
Qualquer Mané Zé Ruela
Que se acha violeiro
E faz um som requenguela
Ganha rios de dinheiro.
Tudo filho de cadela.

E o que é de aborrecer
É pensar que o povo é bobo.
É pagar jabaculê
Pra tocá as música em dobro
Na danada da TV,
Nas novela da tal da Globo.

Muita gente de talento
Ainda existe por aí.
Esse povo tá ao relento
Ninguém nunca quer ouvir.
Pois só tocam os xexelento.
Que só fazem progredir.

Mestre Jackson ficou triste
Com o que viu e o que ouviu.
Ao ver que não mais existe
Em todo esse grande Brasil
Nem um grãozinho de alpiste
Da música que um dia existiu.

Algo tinha de ser feito
Pra mudar esse perfil.
Então estufou o peito,
Botou bala no fuzil,
E disse lá do seu jeito:
- “vão prás quenga que os pariu”!

E sem demora foi invadindo
Estúdio de rádio e gravadora.
Percebeu que não era benvindo,
Chutou bunda de produtora,
E sua raiva foi cuspindo
Desbancando muita cantora:

- “Minha gente faz favor
De melhorar um pouco isso.
Vamos cantar com mais fervor,
Compor com mais compromisso.
Esse povo sofredor
Merece mais reboliço”

- “O ouvido fica malsão
De ouvir assim tanta asneira.
Vamo acabá com o papelão
De cantá tanta tranqueira.
Vamo honrá as tradição
Da nossa música brasileira!”

- “E porque chamar de banda
Um quarteto, quinteto ou sexteto?
Esses cabra que desanda,
Tudo magro feito graveto?
No meu tempo só era banda
As que tocava em coreto”.

- “Pelo povo desvalido
Subo até mesmo em palanque.
Ninguém gosta de ruído.
Será que não tem quem desbanque
Essa música de bandido?
Essa desgraça chamada funk?”

- “Onde é que já se viu
No país de Lenine e Chico
O nosso querido Brasil,
Musicalmente tão rico,
Uma música tão imbecil.
O meu ouvido é penico?”

O discurso foi ouvido
Pelo povo boquiaberto.
Foi um discurso sentido,
De quem tava falando certo.
Foi conselho a ser seguido
Por quem fosse mais esperto.

E era importante o alerta
Porque sério era o assunto.
Mas mesmo com mente aberta
E sem preconceito junto
As palavra que era certa
Era as palavra de um defunto!

Por mais que fosse importante
Respeitá a voz de contralto
De antepassado tão extravagante
Que surgiu de sobressalto,
O mercado continuava pulsante
E a grana falava mais alto.

E quem tomou o corretivo,
E que não gostou do que ouviu,
Tudo produtor executivo,
De pavio curto ou sem pavio,
Fez ao fantasma explosivo
Promessas e promessas mil.

Disseram que dali em diante
Nada ia ser mais igual.
Que ficasse confiante
Todo o povo celestial.
A musica boa de antes
Ia voltá a ser atual.

O que o Mestre não sabia
É que o bando de cheiroso,
Tudo dono de companhia
Que vai na onda do Veloso,
Tinha a terrível mania
De ser tudo mentiroso.

Mentiam de noite e de dia,
Mentiam sem nenhum motivo,
E a fala enrolada que havia
Aquele jeito agressivo
Era comum na putaria
Do tal mundo corporativo.

Aquela falsa alegria,
Aquele jeito mascarado,
Aquele clima de orgia,
Aquelas roupa de batizado,
Era comum na putaria
Do tal mundo globalizado.

Então o velho Jackson, contente,
Pegou o caminho da roça,
Achando que tudo ia ser diferente.
Mal sabia da sujeira grossa
Que aquele povo indecente
Fazia de sua bossa.

O Mestre pro céu retornou
Louco pra contá suas valentia.
Cá na terra nada melhorou
Pois a música que se ouvia
Em pouco tempo voltou
A ser a mesma porcaria.

E depois de seu regresso
O povo feito criança,
Teve a idéia, num acesso,
De prepará uma triste vingança:
Pegá o seu maior sucesso
E transformá em lambança.

O Mestre nas nuvens vivia
Enquanto destruíam sua arte.
Para a vingança que se urdia
Chamaram um grupo de dá enfarte,
Os assassino da melodia
De nome Banda Restart.

E o que ocorreu afinal,
Rearranjado em forma de break,
Até que não ficou tão mau.
Foi gravado enfim o remake
E era assim: “this is how
The frog sings in the lake”.......

domingo, 10 de outubro de 2010

Quem em sã consciência...

cometeria o despautério de escrever um soneto sobre a "bunda"? Drummond? Bandeira? Quintana? Pouco provável. Não que eles não tenham escrito poemas eróticos. Escreveram sim mas estes ficaram guardados a dezessete chaves e só foram divulgados após a morte dos poetas citados. Eu, que não estou sob a pressão da fama e nem tenho compromisso com o bom mocismo, cometi, há alguns anos, esse desatino:



SONETO GLÚTEO


A este formoso pomo de dama
Que aos sonhos profundos inunda,
Que as horas ociosas inflama
E que se convencionou chamar bunda,
Às duas montanhas de almas gêmeas
Com textura de pele infantil,
Escultura propícia às fêmeas,
De incomum denominação gentil
É que componho este soneto fútil,
De estrutura elementar volátil
Para designar o meu amor glúteo
Que extrapola a sensação táctil
E reclama uma dentada útil
Na maciez de região tão retrátil.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Aqui vai mais um...

dos meus intermináveis sonetos!




CONGELANDO


O vento frio que me vem ao rosto
Traz um gosto acre de saudade
E as ruas tristes da cidade
A verdade de um eterno agosto.
O sangue, lentamente congelando,
Furta a minha última gargalhada,
Atrapalha a minha melhor piada
E do tempo vou me desligando.
A mão direita aos poucos endurece
E os versos escapam mutilados
Enquanto a alegria adormece.
O amor está desempregado
E o coração, sem ter o que carece,
Vai parando, vazio e congelado.