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quinta-feira, 27 de maio de 2010

Assim...

Sim amigos. Eu estava evitando obstinadamente me render ao mais desbragado romantismo, mas os eflúvios de Eros venceram! Daí a postagem deste poema antigo, escrito nem me lembro para quem e em quais condições. Péssimas seguramente,uma vez que tem um tom cinicamente melancólico e propositadamente canalha!



ASSIM O AMOR SE MANIFESTA EM MIM


Eu olharei demoradamente para o alvorecer dos teus olhos doces
E encontrarei no caminho o teu olhar sereno
E desfolharei, folha a folha, os segredos do teu sorriso
E o meu sorriso posterior não esconderá o calor obsceno
Que envolverá minha alma amotinada e abarrotada de gin
Porque é assim que o amor se manifesta em mim.

Algum amigo providencial se incumbirá das apresentações devidas
E tocarei pela primeira vez teu corpo através de tua mão trêmula e fria
E arriscarei um beijo desajeitado em tua face de cetim,
Que me revelará odores que não suspeitava e ângulos que não via
E recolherei minha mão tímida na segurança de um bolso de brim
Porque é assim que o amor se manifesta em mim.

Um silêncio quase eterno se fincará entre nós dois
Até que iniciemos o desfile de afinidades, indefinidamente
E buscarei explicações para a estranha sensação de já conhecê-la
E conversaremos a noite inteira e me ocuparás inteiramente a mente
E a festa, que já não existia, chegará rapidamente ao fim,
Porque é assim que o amor se manifesta em mim.

Após as despedidas protocolares eu sonharei contigo e com tua voz
De timbre inédito, que me fará ser teu eterno ouvinte
E guardarei com a vida o papel improvisado, com teu número
E telefonarei no outro dia e em todos os seguintes
Até conseguir rever teu inesquecível rosto enfim
Porque é assim que o amor se manifesta em mim

Procurarei tua alma com minha língua, no primeiro beijo,
Que não será o último, nem o melhor, nem o imprescindível
Mas que virá antes de todas as melhores sensações do mundo
E derreterá as profundezas do meu corpo irredutível
E colorirá meu rosto com teu batom carmim
Porque é assim que o amor se manifesta em mim.

Descobriremos semelhanças de alma e dessemelhanças de corpo
Com um desejo voraz de saber absolutamente tudo
De conhecer a luz interna, um do outro, abertamente,
Para saber exatamente o que nos deixa mudos,
O que nos aperta o coração mas que não é ruim
Porque é assim que o amor se manifesta em mim.

Chegará doce e tranquila a hora de fazer o amor
Que será desejado como o primeiro em nossas vidas
E abraçarei teu corpo e permanecerei em ti após o gozo
E esquecerei uma a uma antigas paixões mal resolvidas
Pois serás realmente a primeira em minha vida, do começo ao fim
Porque é assim que o amor se manifesta em mim.

Então, sem nenhum aviso ou carta de advertência
A insegurança tratará de se instalar onde não foi desejada
E os nossos humores variarão, dia após dia
E um sopro rude tentará apagar a chama já desgastada
E sentirei receio de tentar reacender o estopim
Porque é assim que o amor se manifesta em mim.

Ao teu lado sentirei tua ausência torturante
E não ouvirei mais tua harmoniosa voz a chamar pelo meu nome
E perceberei teu corpo repelindo silenciosamente o meu
E a dessintonia me afastará de ti e me dará fome
E beberei até desmaiar no primeiro botequim
Porque é assim que o amor se manifesta em mim.

Partirei discretamente, num breve intervalo de tua ruidosa gritaria
E passarei a vida imaginando o quanto poderia ser belo
E cultivarei em minha coleção mais um desastroso desencontro
E cobrirei com meu solene manto o meu amor paralelo
Até chegar o momento de redescobrí-lo, enfim,
Porque é assim que o amor se manifesta em mim.

Assim a morte aguarda a minha vida
Com seu sorriso de marfim.