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domingo, 30 de janeiro de 2011

Em um domingo em que...

os termometros passam dos 30 graus, nada melhor do que um soneto de amor para esquentar ainda mais:




EDIFÍCIO



Congelar a energia do início
É imprescindível a quem quer amar.
O amor deve ser sempre um vício
Daqueles bem difíceis de largar.
Pois senão logo vem o tempo
Com a mania de jogar por terra
Tudo e transformar em contratempo
A dor e a antiga paz em guerra.
Escapar dessa terrível sina
É preservar o amor mais propício
À alma que dele se ilumina.
Conservar intacto esse edifício,
Evitar que chegue logo à ruína
É congelá-lo logo no início.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Sim, podem me acusar...

de ser excessivamente autofágico, metalinguístico. Sempre gostei de ter como tema o ato de escrever. Este é apenas mais um texto cometido em nome disso:



INVERSÕES


Aprendi a apreciar as rimas.
De menino, a distribuir ritmos,
Versificar métricas,
Metrificar versos
E os sentidos.
Empreendi viagens por rios insuspeitos.
Voei por céus nunca voados.
Aprendi a fugir das rimas.
Prescindi da métrica
Dos imprescindíveis versos
Mas nunca fugi dos ritmos.
Adorei o desenho das letras.
Acompanhei ludicamente seus contornos.
Solidifiquei-os na memória.
Decorei meus próprios versos
E as palavras com o sólido contorno
Das inesquecíveis letras.
Nunca esqueci que escrever
É esquecer tudo o que escrevi
E começar do nada,
Do vácuo, da primeira letra.

sábado, 22 de janeiro de 2011

Por mais que não seja uma sensação...

baseada na realidade, existem dias na vida em que a gente se sente abandonado, só, um lixo! Esse sonetinho antigo fala um pouco disso.




FORA DE COMBATE


A todo delito corresponde uma vítima.
A todo rato sujo de sarjeta
Corresponde uma paixão legítima,
Ainda que do outro lado do planeta.
Um vento úmido e frio adverte
Que meu sorriso está fora de combate,
No jogo de sedução que patrocino deu empate,
Minha alma perdeu o ímpeto, ficou inerte.
Meu olhar apaixonado se tornou bovino.
Minha pele alva perdeu textura
E meu amor profundo se tornou cretino.
Um estorvo em meu coração sem ternura
Me faz só, abatido e franzino.
Uma mala sem alça rasgada na costura.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Muitas vezes....

a vida nos impõe tarefas muito difíceis, árduas, inesperadas. Ser obrigado a esquecer alguém que não se quer esquecer é apenas uma delas, talvez das mais impossíveis. Este soneto antigo fala disso:




DESAPARECIMENTO


Hoje de manhã vi você na esquina.
A vi depois, atravessando a rua.
Cocei meus olhos, você estava nua
Em passo lento, rosto de menina.
A tardinha você passou por mim.
Em passos largos, passou bem rente.
Estava então quase transparente,
Numa pressa de quem vislumbra o fim.
E então a noite você foi sumindo.
Como ultimamente já vinha vindo.
E teu sorriso alvo escureceu.
A madrugada veio e foi se abrindo.
Restou apenas teu calor dormindo.
Você finalmente desapareceu.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Hoje é sexta-feira....

...e é dia de retomar os colóquios insensatos. Vamos lá!



COLÓQUIOS INSENSATOS 8


- E então eu, como a nova CEO dessa empresa, convoquei a última reunião do ano, esse brainstorm final, porque quero levar para o Chairman e principalmente para o Board os targets e assignments para o próximo ano.
- Vamos começar já otimizando nosso endomarketing do head count inteiro, para melhorar o nosso break even point, correto?!
- Como faremos? Simples. Antes de mais nada vamos estartar o nosso B2C e dar um follow up diretamente ao CFO. Isso sem esquecer, é óbvio, que o nosso target sempre será o outplacement, tudo dentro do budget e principalmente do overhead.
- Para explicar isso vou passar a palavra para o suply chain management para ele falar do trânsito do benchmarketing. Almeida!
- Hã?......
- É com você Almeida....para falar do trânsito!
- Ah....com essa chuva....levei uma hora e meia prá chegar aqui....

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Lá vai mais um...

poemão escrito há vários anos. Fala sobre o amor e suas vicissitudes, seus percalços e suas armadilhas. Quem não conhece isso?!





RELATO DO DIA SEGUINTE



Acendo mais um cigarro, respiro fundo e me coloco outra vez a teus pés
Procurando pontes que me levem de volta a ti,
Pontas de cordas para reatar os nós, mesmo ciente do que tu és
Porque não queria ver tua alma e de fato a vi.

Faço uso do polegar e do indicador de forma inusitada,
Tapo as narinas e mergulho rumo ao que desconheço e temo,
Estudo as táticas para vencer tua defesa bem armada,
Evito admitir os buracos em nosso barco a pique e incoerente remo.

Sinto faltar as energias que sugas sem cessar, levando embora a alegria,
Levando minha alma embora, confundindo os meus caminhos,
Eu que não sou Fausto e, tácito, aceito um acordo que não pretendia,
Recebendo em troca, parcelados, teus imprescindíveis carinhos.

Procuro saídas e teu coração só me apresenta portas de acesso
E escancaro o meu, inutilmente, posto que já o ocupas,
Ensaio despedidas, treino meus discursos de retrocesso,
Ao tempo em que não dou atenção ao que de fato me preocupa.

Flagro teu olhar percorrendo outros olhares ávidos,
Percebo teu coração desgarrando nas curvas dos nossos desencantos,
Quase aplaudo o espetáculo que armas, ao qual assisto impávido,
Ouço as explicações que não me forneces, cheio de entretantos.

Tento ser duro contigo pela manhã, ao telefone,
Repasso todos os meus conceitos mais racionais,
Acabo não resistindo e te imploro que me proporciones
Teu amor sem medo e teus beijos paradoxais,

Porque quando sinto colar teu corpo ao meu corpo perplexo
E ouço tua voz ecoando em todos os recantos do meu mundo,
Os argumentos se confundem num texto desconexo,
Ainda que eu não saiba o que fazer desse amor profundo.

sábado, 8 de janeiro de 2011

Escrito em tempos...

de guerra fria, ou talvez já quase gelada, este poema ganha vida nova nessa época de exercícios militares e testes nucleares pelo planetão afora!



POEMA INÚTIL APÓS O FIM DO MUNDO

Antes que o mundo acabe beije uma velha simpática de língua.
Antes que a vida se extíngua se aposente em Maceió.
Antes que retornemos ao pó dance nu uma rumba.
Antes que o planeta sucumba assista ao seu último eclipse.
Antes do Apocalipse adote Casanova como exemplo.
Antes do fim dos tempos desligue rapidamente a TV..
Antes do dia D assuma finalmente seu lado vagabundo.
Antes do fim do mundo escreva o verso fundamental.
Antes do juízo final aguarde impávido o seu deslinde.
E não esqueça do último brinde.