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sábado, 29 de maio de 2010

Evoé José Ramos Tinhorão

NOTA DE FALECIMENTO


Faleceu há muitos anos, em todas as cidades do Brasil, a música brasileira. Assassinada por milhares de pares de mãos, resistiu bravamente antes do derradeiro suspiro. Tentou-se os processos de ressurreição de praxe através de sessões de massagens cardíacas perpetradas por centenas de cantorazinhas cheirosas, pretensiosas, sem graça e de voz terrivelmente anasalada. O féretro saiu há muito tempo, apesar de ter o cadáver permanecido irritantemente insepulto.
Lamenta-se ou não.
A falecida não deixa herdeiros nem herança.

Sabadão!!!

Neste sábado ensolarado, em que tenho a nítida sensação de que apenas eu estou trabalhando no planeta, por causa desse antigo sonetinho que segue abaixo comecei a pensar em como é curiosa aquela sensação de ser tão ridículo diante da mulher amada.
É um tema recorrente para mim.
Vamos lá!




RETALHOS


Tua boca uma tela de Tápies,
Tua pele um tecido raro,
Tuas palavras, uma confusão de naipes,
Teus odores um presente ao faro.
Teus olhos são dois ovos Fabergé,
Teus cabelos deixam ondas numa seda.
Teus gestos pinceladas de Monet,
Teus amores Rodin copiou em pedra.
Desde cedo aprendeu a perceber
Que a vida é um enigma fino
Que um desenho de Escher nos faz ver.
Tua voz som de mil violinos
Que um verso de Drummond faz descrever.
E eu, insôsso como um pepino.