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sábado, 17 de julho de 2010

Há alguns anos...

elaborei esse auto-retrato que agora compartilho:




AUTO RETRATO

Às vezes sou erudito
Mas com o infinito circunscrito
Como o de um etíope míope.
Sou um Capitão Marvel com cara de bedel.
Um caranguejo com alma de badejo.
Nem Guilherme Tell nem Graham Bell.
Um heterossexual amoral que nunca frequentou bordel.
Outras vezes sou um pirralho grisalho.
Um espírito lírico com excesso de ácido úrico.
Dono de uma gastrite recorrente
E um discurso eloquente.
Corro dos falsos preços módicos
E das ameaças melódicas das moçoilas casadoiras.
Fujo dos chatos esféricos,
Dos chatos hiperbólicos
E dos ares cadavéricos
Dos frequentadores de bares seculares.
Cometo carradas de cagadas
Mas aprendo e permaneço benvindo.
Amo ver mulher sorrindo.
Acho lindo.
Brinco com crianças,
Sonho com quimeras
Começando pela beira das eiras sem elas.
Alimento-me da seiva de rosas amarelas
E choro pelos cantos pela perda dos encantos.
Assisto a vida do terraço
Mas sei fazer estardalhaço quando é preciso.
Sou liso.
Não encalacro, não enrosco.
Amo a vida mas tomo porrada dela.
No baço.
Saio no braço com ela.
Prossigo com dores no omoplata,
Mas com ares de diplomata.