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domingo, 23 de setembro de 2012

Conto novinho em folha!


ALL OF YOU

 

 

Keilane cresceu sem pai na periferia de Diadema. Nascida Keilane Roselaine dos Santos, só o primeiro nome lhe apetecia, tanto que nunca revelou os demais. As três irmãs mais velhas logo saíram de casa e Keilane cuidou da mãe diabética até os 14 anos de idade, quando ficou órfã.

 

Veio para a Capital morar com uma tia e aprendeu o ofício de cabeleireira, até aplicar tintura errada em madame. O salão foi processado por danos morais e Keilane nunca mais conseguiu emprego na área. Teve namoradinhos desde os 11 e perdeu a virgindade aos 13, com um moleque perebento que nada sabia do babado mas por quem era perdidamente apaixonada. Não gostou de sexo nas primeiras vezes, até arrumar um namorado de 28 que lhe ensinou alguns fatos da vida e que logo a largou para casar com moça de família boa. Sofreu como um cão abandonado.

 

Dona de um corpo incrível, a morena Keilane era um arraso de mulher. Beleza típica brasileira, mistura de índios, negros, brancos, cafusos e mamelucos misturados por muitas gerações, não faltaram conselhos para que tentasse a carreira de modelo ou atriz de TV. Fez algumas fotos e se apaixonou perdidamente pelo fotógrafo gay. Deu para muitos diretores de TV e se apaixonou por todos, até quase morrer por um que era casado. Descobriu o telefone de sua residência e ligava várias vezes ao dia, apenas para ouvir a voz do amado. Passou a ser considerada um problema. Keilane era do nível de Juliana Paes e tinha lá as suas gabrielices. Mas quem precisava de outra Juliana Paes? Ainda mais uma que fosse maluca?

 

Carreira curta no mundo artístico não lhe sobraram muitas outras alternativas...errou por aí, teve empregos obscuros, vendeu bolsa pirata e óculos falso num shopping shing ling, entregou folheto em farol, balançou bandeira de prédio novo usando shortinho apertado, até que o destino a levou à prostituição, desfecho quase que inevitável. Entrou pela porta da frente, como a carne mais fresca do Barbacoa Erotic Dreams e suas 12 franquias na cidade. A princípio não se divertia. Depois pegou o jeito e passou a gostar muito. Era a única moça da casa que beijava todos os clientes longamente de língua. Os magros e os gordos. Os feios e os bonitos. De todas as raças, credos e paixões futebolísticas. Cada trepada uma paixão. Até se esquecia de cobrar.

 

Um dia Keilane não apareceu na boate. Nos outros dois dias também. Como não atendia o celular duas colegas foram até a sua kitinete alugada na Rua Augusta. A porta estava destrancada e ao entrar no cubículo perceberam água rósea saindo do banheiro. Keilane tinha cortado os pulsos na banheira e já nenhum sangue percorria seu corpo moreno. Ao retirar o corpo da banheira o perito criminal anotou em sua ficha, no campo marcas corporais, uma tatuagem no ombro esquerdo, escondida pelos longos e sedosos cabelos negros. Um coração trespassado por uma flecha e dentro a inscrição: “Keilane e All Of You”.

 

 

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